sábado, janeiro 28, 2006

Gente que faz arte: Maurílio Tadeu




Maurílio Tadeu é professor, escritor, poeta e ativista cultural residente em Santos, Brasil. Tem dois livros lançados: "Poemas Translúcidos" (2003) e "Violência d Dependência Química: Desafios para a Escola Cidadã" (2004). Pretende lançar seu segundo livro de poesia no início de 2006. Foi presidente durante 10 anos da Sociedade Ars Viva, uma entidade criada em 1961, voltada à música, particularmente a Música de Vanguarda (também chamada Música Nova), oriunda de um movimento que permitiu inovar em termos musicais, fazendo músicas aleatórias, microtonais, dissonantes e agressivas aos ouvidos acostumados com as melodias tonais. Isso gerou protestos, já esperados pelo grupo vanguardista. Nesse grupo destavam-se: Gilberto Mendes, Willy Corrêa de Oliveira, Roberto Tinetti, Conrado Silva, Almeida Prado, além de poetas que permitiram que seus textos fossem musicados, entre eles, Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos. Atualmente Maurílio dedica-se, como presidente, à Contemporânea, uma associação com fins culturais criada em 2004 e oficializada em fevereiro de 2005 e que vai além da música, vislumbrando manipular os vários segmentos da cultura com projetos de sua própria responsabilidade ou através de parcerias.


2. Maurílio, fale um pouco da sua criação literária.

Escrevo poesia há mais de 20 anos. Inicialmente gostava mais de crônicas e contos. A poesia aconteceu a partir das leituras de meus poetas preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Vinícius de Moraes, Fernando Pessoa e Cecília Meireles. O livro que fala sobre Violência e Dependência Química foi resultado de uma pesquisa feita durante meu curso de Mestrado.


3. Fale um pouco da sua participação no projeto Teatro-Escola da cidade de Santos-Brasil. (o projeto existe ainda?)
O projeto teatro-escola surgiu da necessidade de levar a arte e a cultura para as pessoas que não tiveram a oportunidade de usufruírem dela de forma saudável e natural, uma vez que os ingressos dos teatros são caros e as escolas de arte são escassas. O projeto também tem por objetivo resgatar a sensibilidade do cidadão através da arte. Propõe preparar o homem para ler, absorver e discutir a arte, além de fazer parte dela de forma mais atuante, como ator, diretor, escritor, produtor etc. Hoje está suspenso por falta de patrocínio. Estamos aguardando que haja real interesse por parte de pessoas e/ou instituições para que ele possa ser revivido; temos levado a idéia para empresários e pessoas do meio artístico; o retorno, no entanto, tem sido insatisfatório.
4. Como e quando surgiu o Madrigal Ars Viva? Qual a proposta do Madrigal Ars Viva?
O Madrigal Ars Viva surgiu da necessidade que tinha o movimento Música Nova (esse movimento criou a Sociedade Ars Viva e, consequentemente, o Madrigal Ars Viva) de ter um conjunto artístico para interpretar as obras dos compositores do movimento. Assim, o Madrigal Ars Viva surgiu com essa finalidade e, ao longo de quase 45 anos, vem sendo um laboratório para a criação e a recriação da Música Contemporânea Brasileira e Mundial, divulgando novos e já consagrados autores e sua produção, sem apoios, sem subvenções. Vive da contribuição de seus integrantes (contribuição voluntária).
5. Faça um resumo das realizações e da importância do Madrigal Ars Viva para história da música no Brasil.
O Madrigal Ars Viva é o conjunto coral pertencente a Sociedade Ars Viva. Ao longo de sua existência vem divulgando a boa música, de vários períodos, tendências e nacionalidades, desde a música antiga, medieval, barroca, moderna e contemporânea (de vanguarda), passando pelas peças folclóricas, populares e clássicas. É, como já disse, um laboratório de criação e recriação da moderna música erudita.
6. Como são selecionados os integrantes do Madrigal Ars Viva?
Os integrantes do Madrigal Ars Viva, em princípio precisam gostar de música e de cantar. É imprescindível que sejam afinados. Não há necessidade que saibam ler partitura, mas é preciso que tenham bom ouvido. Quando da sua fundação, o Madrigal Ars Viva era formado por músicos e pessoas da alta sociedade, profissionais liberais e estudantes. Com o tempo, novos integrantes vieram substituir os que saíram e hoje há uma formação diversificada: estudantes, músicos, professores, profissionais liberais e outros. O poder aquisitivo dos integrantes é outro, menor. Porém, a qualidade vocal tem se mantido a mesma, fazendo com que o Madrigal Ars Viva seja citado pela crítica especializada como o melhor grupo coral brasileiro, dentro de sua linha de repertório.
7. Quando surgiu a idéia de ampliar as atividades culturais para abranger também a literatura? Em que momento houve a necessidade de desmembrar estas atividades, criando-se a Contemporânea, Projetos Culturais?
Precisávamos dar uma cara nova à Sociedade Ars Viva. Por isso achamos por bem envolver essa tradicional entidade cultural em outros projetos. Porém, uma ala da Diretoria da Sociedade Ars Viva torcia o nariz quando era lançado um concurso literário. Com o surgimento da Contemporânea - Projetos Culturais, achamos melhor transferir a responsabilidade de alguns novos projetos para ela, por ser uma entidade nova, com uma diretoria disposta a absorver a cultura sem restrições. Os próximos concursos literários serão desenvolvidos, a partir de 2006, pela Contemporânea. Talvez a Sociedade Ars Viva dê apoio. Será preciso, para isso, sentar e conversar, para, em princípio, derrubar algumas barreiras ainda existentes.
8. Em 2005 aconteceu uma feliz parceria com a Associação Brasileira dos Organizadores de Festivais de Folclore e Artes Populares - Abrasoffa - durante a festa do folclore, que acontece tradicionalmente em agosto. A parceria continuará nos próximos anos?
A parceria com a Abrasoffa tem sido bastante feliz. A Helena Lourenço, presidente da Abrasoffa é uma pessoa dinâmica, gentil e, acima de tudo, humilde. Já fomos parceiros em dois eventos e pretendemos fazer mais, desde que tudo esteja acontecendo de acordo com os interesses da cultura. Portanto, devemos continuar essa feliz parceria nos próximos anos.
9. Quais os seus projetos para 2006?
Queremos resgatar o teatro escola, lançar concursos literários, promover eventos culturais na área da música, do teatro, da dança, das artes visuais, das artes plásticas e outros segmentos da cultura. Porém, será imprescindível que tenhamos apoios, pois sem eles nada poderá ser feito de forma a garantir bons resultados e satisfazer as pessoas. Estamos abertos para novas parcerias e para discutir novos apoios. Alguns apoios já acontecem, mas ainda não insignificantes para o que pretendemos fazer.

“ CHUVA “

Maurílio Tadeu


A chuva
caindo
molhando
os telhados
penetra
nos ossos
dos homens
que passam
ao trabalho.

O céu
cinzento
derrama
temporal
impiedoso
Não sabe
a alegria
que causa
à vida
dos seres
que molha.

Os pingos
umedecem
os rostos
e entram
nos olhos
lavando
as almas
dos anjos
que voam
alegres
entre nuvens
bailando,
cantando
seus hinos
de paz!

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