segunda-feira, maio 15, 2006

Regina Alonso e William Moffit Harris


Conheça esta semana:

Regina Alonso é ativista cultural da cidade de Santos, participa do grupo Cantigas Praianas e Sociedade dos Poetas Vivos.
William Moffitt Harris - médico pediatra sanitarista, atualmente coordena o Movimento Médico Paulista do Cafezinho Literário – MMCL, que se desenvolve em algumas cidades do interior de São Paulo, inclusive em Santos.


Teatro de sombras
Regina Alonso

Imagens esparsas pelo ar,
borboletas de asas abertas a voar...
Surge à lembrança: sombras à luz da vela.
Serão as rezadeiras na capela?

Eis que entre duas cadeiras,
o pano branco e fino é estendido.
Nenhuma ruga ou frouxidão.
E as imagens de papel correm de mão em mão.

Silhuetas recortadas ganham vida,
suspensas nas asas da imaginação.
Em semicírculos, crianças embevecidas
e nos olhos sonhadores, a ilusão.

Dedos hábeis manipulam as formas,
marionetes no alvo pano de algodão...
E de um lado e do outro do tecido,
o sentimento alinhava a composição.

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O diagnóstico preciso...
William Moffitt Harris

Naquele tempo, os professores dos diversos institutos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP recebiam, também, seus proventos na agência do Banespa localizada num dos anexos da Faculdade de Saúde Pública, de cujo corpo docente fiz parte de 1974 a 1995. O que irei relatar deve ter ocorrido em torno de 1983-85.
Ao chegar à agência, um senhor veio a meu encontro de braços abertos, gesticulando e dando gargalhadas. Quase não o reconheci.
¾ William Moffitt Harris (corretamente pronunciado), meu aluno que ficou na história da dermatologia brasileira...
¾ Professor Curban?...
¾ Sim senhor, seu xará, às suas ordens... - curvando-se numa reverência exagerada e brincalhona.
Olhei para ele e, em poucos segundos, veio à minha memória o quanto lhe devia por ter curado uma maldita disidrose que afligia minha esposa quando estávamos lá em Oswaldo Cruz na Alta Paulista, em 1963. Minha cuidadosa descrição de sua afecção, e sua prescrição resolveram o problema, por carta. Após alguns prolegômenos, indaguei:
¾ Que história é esta de eu ter ingressado na história?...
¾ Pois é, você havia ficado para o exame oral (pensei com meus botões “grande novidade, vivia ficando para exames finais e dependências...”) e na salinha estávamos você, eu e o paciente com uma lesão cutânea. Ao olhar, sem pestanejar, antes que eu pudesse falar qualquer coisa em termos de história pregressa do caso, você apontou com o dedo e disse: “Eczema exsudativo infeccioso-alérgico...” 3 Perguntei como você havia chegado àquela conclusão, já que, sabidamente, você nunca havia se interessado muito pela minha especialidade.
¾ E daí, professor, o que foi que eu disse?
¾ Você disse, na minha cara e na do paciente: “Sabe, professor, é que o veterinário esteve em casa anteontem e nos disse que era isto que a nossa cachorrinha tinha.”


Era Uma Vez Um Menino Travesso. - Ed. Legnar, 2004.

segunda-feira, maio 08, 2006

Mulheres fazem poesia...


APRENDIZ DE POETA
Doralice Croce – de Sede – retalhos de poesia

Sou humilde discípulo
Dos mestres da poesia.
Sou artesão do vocábulo
Dia e noite, noite e dia...

Ao trabalhar o verbo
Meu pensar é infinito,
Dou-lhe bonita roupagem
Através do manuscrito.

E para dar bom tom ao verso
Na arte do acabamento
Procura lapidar o som
Nas letras do alfabeto...

Faço trovas, foco rimas
De maneira escultural...
Cultivo o segredo, a magia
Que torna o poeta imortal!

A BUSCA DA ESSÊNCIA
Cynira Antunes de Moura

Olhando minha imagem frente ao espelho
eu vejo apenas o lado exterior,
procuro algo mais nobre e me aconselho:
buscando a essência de Deus, o valor!

E então descubro que fui esculpido
por um SER externo e superior,
que viu-me em sua imagem refletido
e traduziu a semente do amor!

Quem é o homem se não tiver fé?
Apenas a casquinha da cigarra...
largada sobre o tronco ou a seu pé?

Mas quando crê tem essência e alento,
tem tronco salvador ao qual se agarra
e tem até maior poder que o vento!

Mensagem de um amigo
Dalva de Araújo

Hoje o Senhor veio conversar comigo,
apareceu em forma de um amigo.
Figura diferente das demais,
ele trazia, em lugar do coração,
uma luz em forma de oração,
e em seus olhos, o cálice da paz.

Mostrou-me assim, o tempo desgastado,
perdido, nos lamentos malfadados
do tédio nas horas preguiçosas.
Sua mãos eram taças coloridas
colhendo minhas lágrimas perdidas,
transformando-as em pétalas de rosas.

O seu corpo era todo um só abraço,
E refez meu caminho em casa passo.
De presente, deu-me ainda este universo
Do saber, que transforma o sofrimento
Em gotas leves, suaves, de um alento
Diluído na canção de cada verso.

Assim é cada amigo que encontramos,
Assim é como amigo que mostramos
A senda da esperança, quando o irmão
Não consegue ocultar o triste riso
Que é a busca infeliz de um paraíso
Ilusório e sem paz no coração.