domingo, junho 05, 2011

O coral municipal Maestro Pedro Pellegrinho

(cidade: Bebedouro / SP)

Era um coral muito antigo,
Quase – ou mais – de quarenta anos,
Formado pelo grupo distinto e seleto de senhoras com ‘postura e compostura’, como dizia a Zélia.
Tinham sido alunos e alunas do ‘Maestro’,
A quem chamavam, com carinho, de seu Pedrinho,
Já falecido mas não esquecido.
Havia a Dinorah, de cabelos brancos como flocos de neve,
Anita, viúva famosa pelos seus méritos e pelos seus doces,
Dona Lady, a esposa do pastor, dama de fino trato,
E a Cida, que era só sorrisos e tão carinhosa que só chamava o marido de ‘Benhê’.
Após tantos anos, ninguém mais se lembrava do sobrenome deles – eram a Cida e o Jorge Benhê.
Havia outro casal, o Hélio e a Neuza, de voz tão linda mas tão tímida que nunca conseguia fazer um solo, pois ficava afônica de emoção.

Os baixos de nomes sonoros: Beraldo, Edésio, Durvail,
Casavam suas vozes roucas com as sopranos agudíssimas e afiadíssimas:
a Nilza, que cantava dançando,
A Lourdes, de porte distinto,
E a Luíta, de talhe elegante.

Vera, senhora de sociedade,
Sempre alegre e bom humorada,
E tão rica de dinheiro e de simpatia,
Nos dias frios trazia café,
E a Zélia fazia um panelão de pipocas.

Quando comecei a cantar no coral,
Embora beirasse os quarenta, chamavam-me de menina, pois, diziam, eram o coral sexy, de sexagenários.
Mentira! Éramos o coral sexy porque na alma éramos todos adolescentes, e cantar remoçava nossos corações.

Espalhamos alegria pela cidade
E foi tanto o encanto do nosso canto que encantou gente de todo canto e o coral cresceu.

Vieram os primeiros jovens:
o Zé Carlos, que tocava violão, imitava o regente e contava piadinhas, com seu amigo Marcos.
e o Edmilson, que, do seu jeito casmurro, cantava as frases mais engraçadas do contraponto,
E a platéia, pega desprevenida, sorria...

Saía regente, entrava regente,
o amor pela música não se alterava,
E o coral evoluiu e cresceu;
Ganhou repertório lírico e ambiente familiar:
pais, mães e filhos adolescentes, todos cantando juntos.
Hoje há nele gente de todos os credos, todas as raças, todas as classes e idades.

O coral já cantou acompanhado de orquestra sinfônica,
gravou disco,
Apareceu em televisão em programa de domingo, transmissão nacional,
Ganhou até concurso.

Eu fiquei toda arrepiada, quando a Dinorah exclamou, neste momento de triunfo:
“Ah, o seu Pedrinho! Se ele estivesse aqui conosco!”
Lembro das fotos antigas que um dia me mostraram,
Dos primeiros coralistas, muitos dos quais eu nem conheci, pois tantos já morreram, e penso:
“Mas, sim, seu Pedrinho está aqui conosco!”
e vejo com os olhos d’alma o querido maestro, de olhos risonhos, a reger, com entusiasmo,
Seu coro de anjos no céu.