quarta-feira, agosto 31, 2005

Biografia: Rui Ribeiro Couto, o penumbrista.

Rui Ribeiro Couto nasceu em Santos, São Paulo, Brasil em 12.03.1898 filho de José de Almeida Couto e de Nísia da Conceição Esteves Ribeiro, portuguesa da ilha da Madeira. Aos quatorze anos de idade estréia na imprensa local.
Em 1915, mudou-se para São Paulo. Matriculou-se na Faculdade de Direito, foi revisor do Jornal do Commercio e colaborador do Correio Paulistano.
Em 1918, obtém o primeiro lugar em concurso literário promovido pela revista A Cigarra. Foi poeta, contista, romancista, jornalista, magistrado e diplomata. Uma curiosidade: colecionava selos.
O apelido de ‘penumbrista’ foi dado ao poeta porque dizia preferir as tardes de garoa às manhãs de sol. Foi considerado o poeta da chuva, da melancolia, da neblina, dos meios tons. Transfere-se para o Rio de Janeiro, onde forma-se em Direito, trabalha como repórter na Gazeta de Notícias e começa a freqüentar os meios intelectuais.
Em 1920, convive com Manuel Bandeira, seu vizinho, na Rua do Curvelo em Santa Teresa, de quem se tornou amigo íntimo até o fim da vida.
O seu primeiro livro de poemas, O Jardim das Confidências, escrito entre 1915 e 1919, é publicado em 1921. No ano seguinte, apesar de não ter participado da Semana de Arte Moderna, mantém intenso contato com os modernistas, e publica dois volumes de contos: A Casa do Gato Cinzento e O Crime do Estudante Batista.
Por motivo de saúde, mudou-se, ainda em 1922, para Campos de Jordão onde residiu até 1924. Casou-se com Ana Jacinta Pereira em 1925, tendo-se divorciado em 1944. Sua produção é intensa, tendo publicado também em francês. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1934. Ingressa na diplomacia, tendo exercido cargos na França, Holanda, Portugal, Suíça e Iugoslávia, até aposentar-se, aos 65 anos. Seu livro Le Jour est Long (1958) recebeu, em Paris, o prêmio internacional de poesia Les Amitiés Françaises, outorgado anualmente a poetas estrangeiros. Muitos trabalhos de Ribeiro Couto foram traduzidos para o francês, espanhol, italiano, húngaro, sueco, servo-croata. Faleceu em Paris, França, a 30 de maio de 1963, aos 65 anos, vítima de um enfarte fulminante. Sobre seu estilo: A poesia de Ribeiro Couto pertence ao Modernismo. Na Fundação Casa de Rui Barbosa, na cidade Rio de Janeiro/Br estão depositados parte de sua biblioteca, de seus documentos e o seu extenso arquivo particular, constituído por fotografias, manuscritos e volumosa coleção de cartas. Dentre os seus correspondentes, estão intelectuais de destaque de sua geração, com destaque para o amigo Manuel Bandeira. De acordo com o crítico Rodrigo Octávio Filho, "Ribeiro Couto opôs, aos temas nobres, os temas cotidianos, os temas da vida ao alcance do olhar de qualquer 'homem da multidão'. E tudo isso em linguagem discreta e em meio tom." Quando foram publicadas as Poesias reunidas de Ribeiro Couto, em 1960, Manuel Bandeira escreveu no Jornal do Brasil: ''Sua poesia continuou sempre sendo a anotação arguta dos momentos raros da vida, aqueles momentos de 'indecisão delicada'. Momentos de subúrbio, digamos assim, quando do luar descem coisas - 'certas coisas'. Nunca lhe interessaram as polêmicas sobre o que seja poesia. 'É poesia? Não é poesia? Quem saberá jamais?' Todos os problemas estavam resolvidos para ele 'pela aceitação da simplicidade'.'' E esse traço de identificação acompanhou uma amizade de toda uma vida, iniciada em 1919, quando Ribeiro Couto lera o poema ''Cartas de meu avô'' e fora, por causa da admiração suscitada, apresentado ao autor. Pouco depois, um Couto ''expansivo'' e ''novidadeiro'' viria a apresentar um Bandeira, tímido e recluso, à rapaziada modernista: ''Foi por intermédio dele que tomei contato com a nova geração literária do Rio e de São Paulo
As cartas entre os modernistas convivem em simbiose com o processo de criação literária, pois os poetas modernistas construíram uma vasta teia de correspondência, através da qual circularam manuscritos, opiniões estéticas, sugestões bibliográficas, conspirações para a publicidade de livros e personagens, intrigas, suspiros e queixas. Nesse mar de cartas, as que trocaram Bandeira e Couto são uma festa para os olhos do voyeur literário, que nelas encontrará relatos da vida miúda dos dois amigos, dos seus empregos, das suas dificuldades.
Sua poesia:

Nasci junto ao porto, ouvindo o barulho dos embarques. .........
Sou bem teu filho, ó cidade marítima,
Tenho no sangue o instinto da partida

Estes são os versos iniciais de Santos, poema cíclico em dez estrofes do livro Noroeste e Outros Poemas do Brasil, publicado pela Companhia Editora Nacional, São Paulo, em 1933. O apelo do poeta - não me esqueças nunca, ó cidade marítima - acabou tombando no vazio, dia Narciso de Andrade, e completa: Não fora a dedicação e a fidelidade de Milton Teixeira com os dois livros fundamentais - Ribeiro Couto Ainda Ausente e Ribeiro Couto, 30 Anos de Saudade -, o nome do santista que carregava a cidade em suas andanças de diplomata pelo mundo teria sido esquecido.

Viola Caipira no Sítio Vista Alegre - Ribeiro Couto

A casa de palha
À beira do rio.
A noite se orvalha
De estrelas remotas.

É noite de frio,
Geada nas grotas,
Café no fogão.
Café, aguardente
E fumo de rolo
Picado na mão.
Viola plangente...
Lá fora o monjolo
Batendo no chão.
Bem-querer ingrato
Que a negra candonga
Deixou no mulato.
Noite longa, longa,
A noite do mato.

Publicado no livro Cancioneiro do Ausente (1943).

Algumas obras:
1921 O Jardim das Confidências. São Paulo: Monteiro Lobato, 1921. (poesia)
1922 O Crime do Estudante Batista. São Paulo: Monteiro Lobato, 1922. (contos)
1931 Cabocla. São Paulo: Editora Nacional, 1931. (romance)
1939 Cancioneiro de D. Afonso. Lisboa: Anuário-Oficinas Gráficas, 1939. (poesia)
1943 Cancioneiro do ausente. São Paulo: Martins, 1943. 115 p. (poesia)
1944 Dia é longo. Lisboa: Portugália Editora, 1944. 383 p. (poesia)

Bibliografia:
Ribeiro Couto – Vida e Obra – por Carolina Ramos -1989
www.novomilenio.inf.br
www.casaruibarbosa.gov.br
Projeto Releituras: www.releituras.com
Panorama de Poesia: www.itaucultural.org.br
Jornal de Poesia: www.secrel.com.br/poesia/rui.htm

domingo, agosto 28, 2005

Enquete

Olá, leitores!
.
Hoje convido vocês a fazerem comentários sobre o que mais gostam neste blog:

as biografias?
o livro Dias de Outono?
as entrevistas?
os pensamentos de escritores famosos?
as poesias?
.
Votem, participem e obrigada pela opinião - valiosa - de vocês. É só clicar no "comentários"

.
Sonia Rodrigues

sábado, agosto 13, 2005

A paz começa no berço

A paz começa no berço

A mineirinha procurava a paz interior, aquela sensação gostosa de ser feliz sem culpas, sem cobranças, quase impossível desejo de saber-se apreciada, respeitada e aceita. Seu jovem coração não concebia nada menos ambicioso que o amor imenso, incondicional e irrestrito, tão natural nas famílias de alguns de seus amigos, felizes eleitos.
Todos os dias, na escola, a garotinha observava o hasteamento da Ordem e Progresso, relanceando olhares suspirosos para a Liberta Quae Será Tamen. Ah, como seria outra a história de nosso país, se diferente fosse a nossa bandeira!
A liberdade parecia-lhe bem mais precioso que o mundinho organizado, severo e monótono do colégio católico dirigido por freiras para a educação das moças de boa família.
Em casa e na escola, a perfeição era a meta. A garotinha bem que se esforçava; corria para a casa com o peito coberto por medalhas e seu rostinho murchava ante a indiferença da mãe: “não fez mais que a obrigação”. O pai, que freqüentemente declarava que não tivera herdeiro mas fora premiado com uma princesinha, assinava distraído o boletim repleto de notas dez e despedia a filha : “agora vá brincar, papai tem coisas importantes a fazer”.
Que a busca pela perfeição era convite certo para a infelicidade a garotinha só compreendeu anos mais tarde, quando o professor de filosofia citou a crítica de Nietzsche ao positivismo, esta técnica de antropometria que rouba do homem o direito de ser feliz por sua individualidade.
O mais duro golpe em suas crenças aconteceu na faculdade, após vitorioso vestibular, para ela passo certo para o reconhecimento de seu valor pessoal, até o dia em que o rapaz bonito de beijo gostoso a descartou porque “gente pobre só pode estar atrás do meu dinheiro”. O que a mocinha de coração magoado poderia fazer, além de lamentar o homem tão sem mérito, que via sua conta bancária como único atrativo para uma mulher?
Tal comentário teve, no entanto, o mérito de abrir-lhe o entendimento para as festas das quais era excluída, para o sorriso condescendente depois da pergunta por seu nome de família, para as implicações das tradições genealógicas dos distinguidos pelos professores.
Porém, para além da discriminação, havia uma genuína alegria iluminando as faces de alguns filhos amados, aceitos e paparicados pelas famílias ricas. Ah, como a mineirinha invejava aquela mocidade feliz, aquela satisfação de sentir-se a pessoa certa no lugar certo! E ela compreendia, entre outras coisas, que a perfeição que lhe haviam apresentado como ideal era impossível, frustrante, um caminho para a insatisfação. Que o importante não é estar certo, é ser feliz, pois quem está feliz está em paz consigo mesmo.
Quem está feliz quer continuar a ser feliz, raciocinava a mocinha, concluindo que pessoas felizes promoverão a paz no mundo.
Ora, as pessoas só são felizes quando geradas com amor e aceitas incondicionalmente. Por isto a mineirinha de outrora ensina hoje a suas filhas que as pessoas são como as flores, desabrocham para alegrar o mundo, cada qual com seu perfume e cor peculiares, maravilhosas em sua diversidade. E as embala cantando a alegria, o respeito e a liberdade.

Sonia Rodrigues
3º lugar no Concurso “Juventude e Paz” promovido pela ABRASOF em 2005

terça-feira, agosto 09, 2005

Mulheres que fazem poesia aqui em Santos.

Poesia premiada:
.
Vontade de Amar

de Mahelen Madureira
(selecionada para representar a cidade de Santosno Mapa Cultural Paulista de 2005)
.
Vem lá do mar este encanto
Este canto de sereia
Este perfume de brisa
E esta vontade de amar.
.
Vem lá do céu este brilho
Desta lua quase cheia
De um tremeluzir de estrelas
E esta vontade de amar.
.
Vem lá do fundo de mim
Do meu âmago no cio
Do meu ventre afogueado
Esta vontade de amar.
.
Vem lá não sei de que mar
Vem lá não sei de que céu
Vem lá não sei de que tempo
Esta vontade de amar.
.
CHEIRO DA TERRA
Doralice Croce
do livro ‘Sede – retalhos de poesia.’
.
Descendo de povos vindos de longe
do bravo europeu e do africano obreiro...
Mas, o forte em meu sangue
tem o cheiro da terra,
paixão que se encerra
no gosto gostoso da liberdade
de correr pelos campos,
de banhar-me nos rios,
enfrentar os perigos e os desafios
sem os vícios (prisões) das grandes cidades.
Pisando a poeira
que me faz tão matreira,
trago o sangue do índio,
traço mais fortedesta raça guerreira:
mistura de mato
palácio e senzala
gerada no seio das serras mineiras.
Sou catita, morena,valente e charmosa.
Sou mulher brasileira.
.
.

Apesar do sol
A pantufa de pelúcia.
Tarde de inverno.
.
Doralice Croce.

terça-feira, agosto 02, 2005

Textos curtos porém belos.

Haicai
.
Apesar do sol
A pantufa de pelúcia.
Tarde de inverno.
.
Doralice Croce.

.
TROVA
.
O homem mau não vê na chama
Com que ele queima a floresta,
Que essa criminosa trama
Queima a vida que lhe resta!
.
Cynira Antunes de Moura.