terça-feira, junho 20, 2006

Haicai

Mais poesia


ACRÓSTICO DO ABC
Lília Stein Goulart de Souza

Amanheço sorrindo,
Bom dia radiante
Com bastante alegria
Dando vivas vibrantes,
Entusiasta e com amor
Feliz e contente,
Generoso e cordial.
Há por aí poetas
Ilustrando com carinho,
Jasmins, perfumes e belezas,
Lembrando que a vida é bela,
Manancial de tanta pureza.
Nas tardes primaveris
Onde cantam os sabiás,
Pombos, rôlas, colibris,
Quero-queros, pintassilgos, bem-te-vis,
Resolutos, primorosos,
Sensuais e multicores,
Transitando no céu cor de anilUfanando seus amores.
Veleiros que vão flutuando
Ximango és de rapina
Zíngara que sou no ABC cantando.
.
Lília pertence ao grupo: Movimento Médico Paulista do Cafezinho Literário: é um movimento liderado pelo escritor William Moffit Harris, que também é médico pediatra e sanitarista. O movimento vem acontecendo há um ano, com reuniões trimestrais nas cidades de Santos, Piracicaba, São Caetano do Sul, Santo André e Sorocaba.

segunda-feira, junho 12, 2006

Entrevista com Eunice Mendes

Eunice Mendes é natural de Santos/SP. Formada em Jornalismo. Edita com Walmor Colmenero, a revista literária artesanal POETIZANDO, a folha poética A POETISA e o zine ÁRVORE AZUL, pelo selo ARTESANIA. Possui vários livros de poemas organizados e registrados na Biblioteca Nacional. Tem poemas publicados em vários jornais, revistas, zines e sites.
contato: walmordario@ig.com.br ou revistapoetizando@yahoo.com.br

Como a poesia entrou em sua vida?

A poesia sempre esteve presente em minha vida. A poesia viva que vestia estrelas dentro dos vidros sextavados dos cristais, que desenhava pássaros no emaranhado de linhas da textura da napa do sofá, passava nuvens dentro das poças de chuva do meu quintal... O primeiro poeta que me sensibilizou foi Drummond, com os versos "perdi o bonde e a esperança..."

A convivência com grupos poéticos influencia a sua criação literária?

Não. Gosto dos grupos pelas amizades, leitura dos poemas e o convívio humano, que é sempre salutar. Minha criação literária é um processo solitário de individuação. Evidente que a arte é a depuração da vida e todo convívio, não só o literário, faz parte desse processo.

Acha que é importante para o aprimoramento da técnica o estudo teórico das obras dos mestres? Comente.

Talvez nem tanto um profundo estudo teórico mas, essencialmente, a leitura e não somente dos mestres, mas de tudo que der prazer: gibi, quadrinhos, jornais, etc; e não somente literatura: cinema, teatro, dança, música, artes plásticas, porque a arte é um corpo com várias linguagens. Conhecer novos autores, novos estilos, estar aberta. Escrever é paixão. Toda paixão é mergulho, aprofundamento.

O leigo ouve com surpresa a expressão ‘poesia falada’. É diferente ler e ouvir poemas? A qual forma de divulgação o público é mais receptivo?

A diferença está na interpretação. Cada um lê a seu modo. Cada leitura é uma versão pessoal. Não sei a qual forma de divulgação o público seria mais receptivo. Não tenho essa informação. Sou receptiva a ambas.

Um diferencial da Poetizando são os delicados e originais marcadores de páginas que você faz com os mais diferentes materiais. Além da poesia, você se dedica a outras formas de arte?

Tenho alguns trabalhos nas áreas de fotografia, artes plásticas e artesanato de reciclagem. Aprecio todas as modalidade artísticas.

Fale algo sobre a sua poesia erótica, que é ao mesmo tempo, elegante e provocativa. E definitivamente feminina.

Não há muito o que dizer pois tudo está expresso na linguagem poética, própria do erotismo que é, em si, poesia. Quem não o vê dessa forma, ainda não o alcançou em sua plenitude. Escrevo simplesmente como sinto.

Em sua opinião, a distribuição de zines e textos de mão em mão, por xérox ou por replicação de e-mails consegue divulgar satisfatoriamente a literatura dita alternativa?


Satisfatoriamente, infelizmente não. Os recursos são escassos e os meios não são acessíveis a todos. Não há interesse econômico voltado à literatura, seja ela alternativa ou não. Aliás, não vejo essa distinção entre literatura e literatura alternativa. Alternativos são apenas os meios de divulgação.

Na Antigüidade não existiam muitos livros, mas declamavam-se longos textos de uma geração à outra. Você tem alguma experiência com grupos de leitura? Percebe em sua cidade uma boa aceitação por este tipo de atividade?

Minha experiência com grupos de leitura vem da escola. Naquela época tínhamos uma aula semanal dedicada à leitura de textos. Eu adorava! Acho que estes grupos vêm crescendo na cidade e a aceitação também. Isto é muito bom. Quanto mais grupos, melhor. Quem ganha somos nós, os amantes da literatura.

Entre dois extremos, como você classificaria o Brasil: um país de leitores potenciais sem acesso a livros ou um país de escritores ávidos por leitores inexistentes?


Nenhuma das alternativas. Entre os dois extremos existe muita complexidade social, política, econômica e cultural. O Brasil é um país que está se tornando inclassificável. Não resolvemos problemas básicos de saúde, educação, habitação, cultura, desemprego, analfabetismo. O potencial dos leitores está caminhando de mãos dadas com os talentos massacrados pela luta da sobrevivência diária, a qual somos obrigados, num país onde as oportunidades não são iguais para todos. Em resumo: tudo perpassa pelo crivo da miséria, mãe de todos os males.

Diga algo – importante para você – sobre o que quiser, para nossos leitores.

...
a poesia é costura desfiada
a gente puxa o fio solto
e ele desliza, infinito
até construir outro tear
...

E obrigada por colaborar com a Alegria de Ler.

Eu que agradeço a oportunidade de divulgação do meu trabalho. Paz e Poesia!


Poesias

claras ramagens
dançam flores amarelas
sonhos do vento

pálidas réstias de sol
perdidas na paisagem

in: Sonhares (2003) - Eunice Mendes


o pássaro possível
em minha mão
é mudo

feito de silêncio e asas
sobrevoa tudo
como se tudo fosse sua casa
e nada
depois se recolhe e se guarda
na fôrma da minha mão
vazia,
pousada

in: Aurora Gris (2003) - Eunice Mendes

segunda-feira, maio 15, 2006

Regina Alonso e William Moffit Harris


Conheça esta semana:

Regina Alonso é ativista cultural da cidade de Santos, participa do grupo Cantigas Praianas e Sociedade dos Poetas Vivos.
William Moffitt Harris - médico pediatra sanitarista, atualmente coordena o Movimento Médico Paulista do Cafezinho Literário – MMCL, que se desenvolve em algumas cidades do interior de São Paulo, inclusive em Santos.


Teatro de sombras
Regina Alonso

Imagens esparsas pelo ar,
borboletas de asas abertas a voar...
Surge à lembrança: sombras à luz da vela.
Serão as rezadeiras na capela?

Eis que entre duas cadeiras,
o pano branco e fino é estendido.
Nenhuma ruga ou frouxidão.
E as imagens de papel correm de mão em mão.

Silhuetas recortadas ganham vida,
suspensas nas asas da imaginação.
Em semicírculos, crianças embevecidas
e nos olhos sonhadores, a ilusão.

Dedos hábeis manipulam as formas,
marionetes no alvo pano de algodão...
E de um lado e do outro do tecido,
o sentimento alinhava a composição.

.
O diagnóstico preciso...
William Moffitt Harris

Naquele tempo, os professores dos diversos institutos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP recebiam, também, seus proventos na agência do Banespa localizada num dos anexos da Faculdade de Saúde Pública, de cujo corpo docente fiz parte de 1974 a 1995. O que irei relatar deve ter ocorrido em torno de 1983-85.
Ao chegar à agência, um senhor veio a meu encontro de braços abertos, gesticulando e dando gargalhadas. Quase não o reconheci.
¾ William Moffitt Harris (corretamente pronunciado), meu aluno que ficou na história da dermatologia brasileira...
¾ Professor Curban?...
¾ Sim senhor, seu xará, às suas ordens... - curvando-se numa reverência exagerada e brincalhona.
Olhei para ele e, em poucos segundos, veio à minha memória o quanto lhe devia por ter curado uma maldita disidrose que afligia minha esposa quando estávamos lá em Oswaldo Cruz na Alta Paulista, em 1963. Minha cuidadosa descrição de sua afecção, e sua prescrição resolveram o problema, por carta. Após alguns prolegômenos, indaguei:
¾ Que história é esta de eu ter ingressado na história?...
¾ Pois é, você havia ficado para o exame oral (pensei com meus botões “grande novidade, vivia ficando para exames finais e dependências...”) e na salinha estávamos você, eu e o paciente com uma lesão cutânea. Ao olhar, sem pestanejar, antes que eu pudesse falar qualquer coisa em termos de história pregressa do caso, você apontou com o dedo e disse: “Eczema exsudativo infeccioso-alérgico...” 3 Perguntei como você havia chegado àquela conclusão, já que, sabidamente, você nunca havia se interessado muito pela minha especialidade.
¾ E daí, professor, o que foi que eu disse?
¾ Você disse, na minha cara e na do paciente: “Sabe, professor, é que o veterinário esteve em casa anteontem e nos disse que era isto que a nossa cachorrinha tinha.”


Era Uma Vez Um Menino Travesso. - Ed. Legnar, 2004.

segunda-feira, maio 08, 2006

Mulheres fazem poesia...


APRENDIZ DE POETA
Doralice Croce – de Sede – retalhos de poesia

Sou humilde discípulo
Dos mestres da poesia.
Sou artesão do vocábulo
Dia e noite, noite e dia...

Ao trabalhar o verbo
Meu pensar é infinito,
Dou-lhe bonita roupagem
Através do manuscrito.

E para dar bom tom ao verso
Na arte do acabamento
Procura lapidar o som
Nas letras do alfabeto...

Faço trovas, foco rimas
De maneira escultural...
Cultivo o segredo, a magia
Que torna o poeta imortal!

A BUSCA DA ESSÊNCIA
Cynira Antunes de Moura

Olhando minha imagem frente ao espelho
eu vejo apenas o lado exterior,
procuro algo mais nobre e me aconselho:
buscando a essência de Deus, o valor!

E então descubro que fui esculpido
por um SER externo e superior,
que viu-me em sua imagem refletido
e traduziu a semente do amor!

Quem é o homem se não tiver fé?
Apenas a casquinha da cigarra...
largada sobre o tronco ou a seu pé?

Mas quando crê tem essência e alento,
tem tronco salvador ao qual se agarra
e tem até maior poder que o vento!

Mensagem de um amigo
Dalva de Araújo

Hoje o Senhor veio conversar comigo,
apareceu em forma de um amigo.
Figura diferente das demais,
ele trazia, em lugar do coração,
uma luz em forma de oração,
e em seus olhos, o cálice da paz.

Mostrou-me assim, o tempo desgastado,
perdido, nos lamentos malfadados
do tédio nas horas preguiçosas.
Sua mãos eram taças coloridas
colhendo minhas lágrimas perdidas,
transformando-as em pétalas de rosas.

O seu corpo era todo um só abraço,
E refez meu caminho em casa passo.
De presente, deu-me ainda este universo
Do saber, que transforma o sofrimento
Em gotas leves, suaves, de um alento
Diluído na canção de cada verso.

Assim é cada amigo que encontramos,
Assim é como amigo que mostramos
A senda da esperança, quando o irmão
Não consegue ocultar o triste riso
Que é a busca infeliz de um paraíso
Ilusório e sem paz no coração.



quarta-feira, abril 19, 2006

"Uma sociedade de carneiros acaba por gerar um governo de lobos"
Victor Hugo


Entrevista com Walmor Dario Santos Colmenero - Autor e Editor santista da revista Poetizando.

Quando você soube que tinha vocação poética?
Eu sempre gostei de ler e escrever. Acho que o poder poético foi quando li Carlos Drummond de Andrade quando ele tinha 80 amos. Acho que foi por aí.
Como e onde escreveu seu primeiro texto literário?Eu escrevia muita crônica na escola. E comecei a gostar da prosa e da poesia nessa época. Escrever prosa assim para valer em 1979 e poesia em 1982.

Como surgiu a idéia de criar a Poetizando? E como surgiu a atual parceria com a Aliança Francesa?
A Poetizando, na verdade, não era uma revista e sim, um fanzine. Quando eu comecei em 2001, ela era muito bagunçada e somente quando eu conheci a Eunice que teve o caráter de revista. Esse formato que está agora surgiu na 7ª. edição.

Qual é a linha editorial da revista? Como são selecionados os textos para publicação?
A nossa linha editorial é sempre usar a revista como um meio de intercãmbio e cultural aos leitores. De preferência, todos os textos têm que ter o mínimo de qualidade literária para fazerem parte da revista. Não é pedantismo, mas sim, o nosso nome que está em jogo.
A Poetizando oferece textos estrangeiros de difícil tradução, como os da polonesa Anka Kowalska, há de poesia marginal a haicais; até mesmo contos de mestres como Borges e Guimarães Rosa. Onde você ‘garimpa’ este precioso material?Normalmente eu uso a minha biblioteca como apoio. Ela não é muito grande, mas é boa em qualidade.

Você procurou levar a Poetizando para as escolas?
Eu nunca tive esse objetivo.
Alguém disse que a diferença entre a barbárie e a civilização é a Arte, que revela a alma de um povo. Castro Alves usou a poesia para combater a escravidão. Estou-me lembrando da letra: ‘com uma canção, também se luta, irmão...”

Você acredita que o acesso à arte pode direcionar o caráter das pessoas para formas mais efetivas de comportamento e promover uma sociedade mais justa?
Eu acho que a Arte é tudo. Para mim, pelo menos, isso ocorre. Escrever e ler é fundamental para o ser humano. Exatamente por isso, que se molda o ser humano com a Arte e dela se é moldado. Sendo assim, a sociedade fica mais justa.

Você acredita que a TV é um bom veículo para divulgar autores e livros?
Acho que a TV é muito boa quando é utilizada da melhor forma. É um verdadeiro meio de comunicação e isso é bom.
Em seu país, em especial em sua região, que espaço a mídia oferece para a literatura?
Santos é uma cidade extremamente artística e isso é muito bom. Só que a cultura é muito desvalorizada no Brasil e a Arte em si, faz parte dela. Há pontos em Santos de Cultura e Arte: cito alguns: Cine Arte Posto 4, Posto 6, Teatro Coliseu e muitos outros.

Deixo aqui o meu agradecimento à Sonia pelo carinho e atenção e fico aberto para as pessoas que queiram conhecer o nosso trabalho. Endereço para contato:

Revista Poetizando
Rua Teodoro Sampaio, 9

CEP.: 11013-640 - Jabaquara - Santos/SP

VERSOS

- Eu te amo! Disse o poeta.
E a moça, simplesmente,cantou uma canção em inglês
que falava de amor.

Walmor Dario Santos Colmenero

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Afonso Schmidt

Olá, leitores!

Hoje trago a você uma reportagem sobre Afonso Schmidt
E a indicação de um site cultural muito interessante.

Confira o Salada Cultural no endereço: lwww.saladacultural.com.br


Afonso Schmidt (1890-1964)


´Não sou um intelectual que serve ao povo - disse um dia o próprio Afonso - mas um homem do povo mesmo, que tem a faculdade de se exprimir em arte´.
Afonso Frederico Schmidt nasceu ao pé da Serra do Mar, em Cubatão, São Paulo, Brasil, em 29 de junho de 1890. Naquela época Cubatão era um distrito da cidade de Santos.Filho de João Afonso e Odília Brunckenn Schmidt, o menino Afonso trazia com orgulho o sobrenome de seu bisavô, um alemão que viera ensinar os rudimentos da arte guerreira aos toscos soldados de dom Pedro I. De Cubatão, levado pelos pais, o menino foi morar em São Paulo na Rua Bresser, que ainda hoje está lá no bairro do Brás, quase Pari, em meio a fábricas de chocolates e doces e confecções.Foi num grupo escolar do Brás que Afonso Schmidt, lá pelos inícios de 1904, teve a primeira experiência nas letras. Como conta Raimundo Menezes em nota explicativa para Tempos das Águas (São Paulo, Clube do Livro, 1962), o menino Afonso ganhou de um colega uma pequena impressora, um trambolho com o qual, na verdade, não se entendeu.Nas férias, ao retornar para a casa dos avós, o menino trouxe a pequena tipografia e começou a compor o que poderia ter sido o primeiro periódico de Cubatão, naquela Cubatão bucólica, a esse tempo um arrabalde muito distante de Santos. No entanto, em Schmidt aquela impressora haveria de incutir o gosto pelo jornalismo. Logo depois, de volta a São Paulo, juntamente com Oduvaldo Viana, publicou o semanário Zig-Zag. Não tinha ainda 16 anos. Já colaborava com jornais do interior de São Paulo. Por essa época, atraído pelas festas de posse do presidente Afonso Pena, decidiu viajar sozinho para o Rio de Janeiro, então capital da República. Seu primeiro livro "Lírios roxos" foi editado com dinheiro que sua mãe juntou e emprestou ao filho, que o vendeu de porta em porta.Em 1907, com 16 anos, parte para, com pouco dinheiro e muita audácia. Cansou-se, contudo, desta Lisboa ainda provinciana do começo do século e resolve ir a Paris, onde consegue emprego numa editora que preparava um dicionário francês-português.Não ganhava muito, mas o pai sempre lhe mandava algum dinheiro pelo banco Crédit Lyonnais. Depois de um ano na Europa, retornou a Santos, dedicou-se ao jornalismo. Partiu para a aventura de fundar um jornal a que chamou de Vésper.Publicou, em 1911, seu primeiro livro de poesia, Janelas Abertas (1911). Em 1913, retornou à Europa, desta vez estabeleceu-se em Milão, onde conseguiu em um jornal, emprego como correspondente em língua portuguesa. Viveu disso durante três meses.Retornou ao Brasil quando começava a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).. Em 1920, foi ao Rio de Janeiro para trabalhar num jornal de esquerda, A Voz do Povo. Em Santos foi redator da "Folha da Noite", do "Diário de Santos" e de "A Tribuna". Não quis participar da Semana de Arte Moderna de 1922, mas formou um outro grupo que já rompera com o academicismo, junto com Monteiro Lobato, seu amigo pessoal.Em 1924, em São Paulo, trabalhou na Folha da Noite e, em 1924, em O Estado de S.Paulo, onde permaneceu quase até os seus últimos dias. Foi nesse jornal que publicou em folhetim no suplemento literário alguns de seus principais romances: A Sombra de Júlio Frank, A Marcha e Zanzalá. Em 1950, a revista O Cruzeiro concedeu-lhe um prêmio pela obra Menino Felipe.Em 1963 recebeu o prêmio O Intelectual do Ano, troféu Juca Pato, concedido pela União Brasileira de Escritores.
Foi sócio fundador do Sindicato dos Jornalistas do Estado de S. Paulo, membro da Academia Paulista de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.Faleceu em 3 de abril de 1964, na cidade de São Paulo, aos 73 anos,
De seu estilo:
Poeta parnasiano, apontou em seus versos desigualdades e injustiças sociais, que o inquietaram ao longo de toda a vida.
“São os versos de Afonso Schmidt o espelho do seu temperamento de sentimental, que se expressa sempre com uma grande delicadeza, uma grande ternura, uma admirável simplicidade."
Góes, Fernando [1960]. Em Panorama da poesia brasileira
Homenagens:
A Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo instituiu o Dia do Escritor Paulista em sua homenagem, comemorado anualmente no dia de seu aniversário.
Hoje a cidade de Cubatão homenageia o autor anualmente com o evento cultural Semana Afonso Schmidt, a Banda Sinfônica Afonso Schmidt (que inclusive já excursionou pela Europa em intercâmbio patrocinado pela UNESCO em 1999) e o Coral Zanzalá..
Obras: Colônia Cecília – romance; A Marcha – romance; Zanzalá; O Menino Filipe (romance); A Primeira Viagem (autobiográfico); O Tesouro de Cananéia, (contos); A Vida de Paulo Eiró ; São Paulo de meus Amores (crônicas).;Mocidade (1921); Garoa (1932); Poesias (1934); Poesia (1945).

Bibliografia:
Revista Chapéu-de-sol nº 4 – 1999
Reportagem dos jornalistas Francisco Carlos dos Santos e Marivaldo Rosa de Oliveira
http://sites.unisanta.br/faac/espaco/schmidt.html
artigo de Adelto Gonçalves
www.eeafonsoschmidt.hpg.ig.com.br
http://www.itaucultural.org.br
http://www.vivasantos.com.br

sábado, janeiro 28, 2006

Gente que faz arte: Maurílio Tadeu




Maurílio Tadeu é professor, escritor, poeta e ativista cultural residente em Santos, Brasil. Tem dois livros lançados: "Poemas Translúcidos" (2003) e "Violência d Dependência Química: Desafios para a Escola Cidadã" (2004). Pretende lançar seu segundo livro de poesia no início de 2006. Foi presidente durante 10 anos da Sociedade Ars Viva, uma entidade criada em 1961, voltada à música, particularmente a Música de Vanguarda (também chamada Música Nova), oriunda de um movimento que permitiu inovar em termos musicais, fazendo músicas aleatórias, microtonais, dissonantes e agressivas aos ouvidos acostumados com as melodias tonais. Isso gerou protestos, já esperados pelo grupo vanguardista. Nesse grupo destavam-se: Gilberto Mendes, Willy Corrêa de Oliveira, Roberto Tinetti, Conrado Silva, Almeida Prado, além de poetas que permitiram que seus textos fossem musicados, entre eles, Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos. Atualmente Maurílio dedica-se, como presidente, à Contemporânea, uma associação com fins culturais criada em 2004 e oficializada em fevereiro de 2005 e que vai além da música, vislumbrando manipular os vários segmentos da cultura com projetos de sua própria responsabilidade ou através de parcerias.


2. Maurílio, fale um pouco da sua criação literária.

Escrevo poesia há mais de 20 anos. Inicialmente gostava mais de crônicas e contos. A poesia aconteceu a partir das leituras de meus poetas preferidos: Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Vinícius de Moraes, Fernando Pessoa e Cecília Meireles. O livro que fala sobre Violência e Dependência Química foi resultado de uma pesquisa feita durante meu curso de Mestrado.


3. Fale um pouco da sua participação no projeto Teatro-Escola da cidade de Santos-Brasil. (o projeto existe ainda?)
O projeto teatro-escola surgiu da necessidade de levar a arte e a cultura para as pessoas que não tiveram a oportunidade de usufruírem dela de forma saudável e natural, uma vez que os ingressos dos teatros são caros e as escolas de arte são escassas. O projeto também tem por objetivo resgatar a sensibilidade do cidadão através da arte. Propõe preparar o homem para ler, absorver e discutir a arte, além de fazer parte dela de forma mais atuante, como ator, diretor, escritor, produtor etc. Hoje está suspenso por falta de patrocínio. Estamos aguardando que haja real interesse por parte de pessoas e/ou instituições para que ele possa ser revivido; temos levado a idéia para empresários e pessoas do meio artístico; o retorno, no entanto, tem sido insatisfatório.
4. Como e quando surgiu o Madrigal Ars Viva? Qual a proposta do Madrigal Ars Viva?
O Madrigal Ars Viva surgiu da necessidade que tinha o movimento Música Nova (esse movimento criou a Sociedade Ars Viva e, consequentemente, o Madrigal Ars Viva) de ter um conjunto artístico para interpretar as obras dos compositores do movimento. Assim, o Madrigal Ars Viva surgiu com essa finalidade e, ao longo de quase 45 anos, vem sendo um laboratório para a criação e a recriação da Música Contemporânea Brasileira e Mundial, divulgando novos e já consagrados autores e sua produção, sem apoios, sem subvenções. Vive da contribuição de seus integrantes (contribuição voluntária).
5. Faça um resumo das realizações e da importância do Madrigal Ars Viva para história da música no Brasil.
O Madrigal Ars Viva é o conjunto coral pertencente a Sociedade Ars Viva. Ao longo de sua existência vem divulgando a boa música, de vários períodos, tendências e nacionalidades, desde a música antiga, medieval, barroca, moderna e contemporânea (de vanguarda), passando pelas peças folclóricas, populares e clássicas. É, como já disse, um laboratório de criação e recriação da moderna música erudita.
6. Como são selecionados os integrantes do Madrigal Ars Viva?
Os integrantes do Madrigal Ars Viva, em princípio precisam gostar de música e de cantar. É imprescindível que sejam afinados. Não há necessidade que saibam ler partitura, mas é preciso que tenham bom ouvido. Quando da sua fundação, o Madrigal Ars Viva era formado por músicos e pessoas da alta sociedade, profissionais liberais e estudantes. Com o tempo, novos integrantes vieram substituir os que saíram e hoje há uma formação diversificada: estudantes, músicos, professores, profissionais liberais e outros. O poder aquisitivo dos integrantes é outro, menor. Porém, a qualidade vocal tem se mantido a mesma, fazendo com que o Madrigal Ars Viva seja citado pela crítica especializada como o melhor grupo coral brasileiro, dentro de sua linha de repertório.
7. Quando surgiu a idéia de ampliar as atividades culturais para abranger também a literatura? Em que momento houve a necessidade de desmembrar estas atividades, criando-se a Contemporânea, Projetos Culturais?
Precisávamos dar uma cara nova à Sociedade Ars Viva. Por isso achamos por bem envolver essa tradicional entidade cultural em outros projetos. Porém, uma ala da Diretoria da Sociedade Ars Viva torcia o nariz quando era lançado um concurso literário. Com o surgimento da Contemporânea - Projetos Culturais, achamos melhor transferir a responsabilidade de alguns novos projetos para ela, por ser uma entidade nova, com uma diretoria disposta a absorver a cultura sem restrições. Os próximos concursos literários serão desenvolvidos, a partir de 2006, pela Contemporânea. Talvez a Sociedade Ars Viva dê apoio. Será preciso, para isso, sentar e conversar, para, em princípio, derrubar algumas barreiras ainda existentes.
8. Em 2005 aconteceu uma feliz parceria com a Associação Brasileira dos Organizadores de Festivais de Folclore e Artes Populares - Abrasoffa - durante a festa do folclore, que acontece tradicionalmente em agosto. A parceria continuará nos próximos anos?
A parceria com a Abrasoffa tem sido bastante feliz. A Helena Lourenço, presidente da Abrasoffa é uma pessoa dinâmica, gentil e, acima de tudo, humilde. Já fomos parceiros em dois eventos e pretendemos fazer mais, desde que tudo esteja acontecendo de acordo com os interesses da cultura. Portanto, devemos continuar essa feliz parceria nos próximos anos.
9. Quais os seus projetos para 2006?
Queremos resgatar o teatro escola, lançar concursos literários, promover eventos culturais na área da música, do teatro, da dança, das artes visuais, das artes plásticas e outros segmentos da cultura. Porém, será imprescindível que tenhamos apoios, pois sem eles nada poderá ser feito de forma a garantir bons resultados e satisfazer as pessoas. Estamos abertos para novas parcerias e para discutir novos apoios. Alguns apoios já acontecem, mas ainda não insignificantes para o que pretendemos fazer.

“ CHUVA “

Maurílio Tadeu


A chuva
caindo
molhando
os telhados
penetra
nos ossos
dos homens
que passam
ao trabalho.

O céu
cinzento
derrama
temporal
impiedoso
Não sabe
a alegria
que causa
à vida
dos seres
que molha.

Os pingos
umedecem
os rostos
e entram
nos olhos
lavando
as almas
dos anjos
que voam
alegres
entre nuvens
bailando,
cantando
seus hinos
de paz!