Literatura de cordel



DNA, A VACA E OS BARANGOS

Uma estória vou contar
Verdadeira, podem crer,
Vocês vão rir de rachar
Dos versinhos que irão ler.

Certa vez falei bem alto:
‘Desdcobri! Tenho três pais.’
A minha mãe deu um salto
De susto gritou uns ‘ais!’

A multidão nos cercava
Todo mundo nos olhava
Mamãe logo suspirou
De alívio, porém, coitada!

‘Eu tenho o Papai do Céu
e também Papai Noel
e um papai de verdade
que mora em outra cidade’.

O tempo passou, cresci,
O terceiro pai, ausente.
Eu logo, logo, entendi
Seu apelido freqüente.

Como era um pai biológico
DNA foi chamado
E por um processo lógico
Pelas filhas rejeitado.

Quando algum tempo passou
Outra família arrumou
Este pai desengonçado,
Pão-duro e tão complicado.

Arrumou uma mulher
Que dele o dinheiro quer,
Com dois filhos já crescidos
Igualmente muito vivos.

Tão feios, os baranguinhos
Que papai logo adotou,
Chamando de queridinhos
Aos tais – DNA pirou!

Em primeiro de janeiro
A família reunida
Maninha sentou no joelho
Do DNA. E a bisca?

Esta rolou do barraco
E gritou: ‘Larga o meu homem!
Eu dou para ele. Vá pro espaço!
É só a mim que ele come!’

‘É meu pai. Do seu abraço
não abro mão, sua vaca!’
E o apelido ficou dado,
Enquanto a avó desmaiava.

A vaca é tão ‘gente fina’
Que faz calcinhas em casa
Poupa muito na cozinha
Comendo sardinha em lata.

Fui pra São Paulo estudar
Procurei uma pensão
DNA foi-me buscar
Pois a Vaca fez pressão.

‘Menina mora com o pai,
isto não tem cabimento!
No boca do povo cai
Mulher feito folha ao vento.’

Assim, pra lá me mudei
Mas nem um mês agüentei
Ouçam esta confissão
Vejam só que confusão.

A geladeira é lotada
De comida...estragada.
A baranga guarda as sobras –
Preguiça de jogar fora.

De manhã cedo, na mesa,
Pão vencido, já mofado:
‘Se não ta verde- beleza!’
Diz ela –‘Coma seu bocado.’

Para o almoço eu encontro
Arroz branco com abobrinha
E se espanto eu demonstro
Ela diz: ‘Como é fresquinha!’

À meia-noite ela irrompe
E o meu sono interrompe:
‘Fiz um macarrão gostoso
sinta como está cheiroso’.

Certa noite resolveu
A doida assistir TV
E varar a madrugada.
Convidou a barangada.

Eu liguei pra minha tia
Que foi me buscar no ato
Pois quem passa a noite em claro
Precisa dormir de dia.

Para levar meu pijama
Um plástico procurei
Ouça, o que escutei
Da malvada mulher-dama:

‘Se em casa não dormir
Não pode levar sacola’
Nós nos rimos a bom rir
Do singular bota-fora.

Tanto fez, tanto falou
Que o pai enfim se casou
E levou a filharada
Para morar na mesma casa.

A partir deste momento
Foi tamanha a barulhada
Que aprontou a barangada
No pequeno apartamento

Que o síndico reclamou
Em nome da vizinhança
E o juiz os expulsou
‘Saiam daí sem tardança’.

Então lembrou-se alguém
Do condomínio atrasado
E de aluguéis que também
Inda estavam por ser pagos.

A barangada gastara
O dinheiro que o DNA ganhara
Ele ficara sem nada
E agora ficara sem casa.

A estória inda não acabou
Mas vai de mal a pior
E eu aqui feliz estou
Quem ri depois, ri melhor.