textos de Tatiana Rodrigues Vieira

minha filha Tatiana, em menina, escrevia historias alegres, agradaveis por sua inocencia, e com rima e estilo. Aí vão seus primeiros ensaios literários, espero que ela retorne a eles algum dia.

dedico esta página a você, Tatiana,
com amor, mamãe.


Incursões infantis pelo mundo da literatura


Céu


Eterno azul
dono do mundo
Morada de Deus
morada dos anjos,
Refúgio para os desesperados
que dirigem seu olhar para o seu primeiro lar.
Amor para os enamorados,
que para suas estrelas não se cansam de olhar.
Alegria para as crianças,
que vêem suas nuvens como sonhos a voar.
Em você dorme agora o sol
Em você acordada está a lua
Em você moram as estrelas
e as maravilhas do mundo.
Não sei o que mais existe
nesse seu azul infinito.
Existem mistérios a se encontrar
Existe minha nuvem a me esperar
e existe meu céu particular.


As duas amiguinhas
Editora Tatilar
com ilustrações da autora

Esta história foi baseada em uma cachorra real, qualquer semelhança com nomes ou aconteciments reais não terá sido mera coincidência.

Comentário (imaginário) de contracapa:
A escritora Tatiana Rodrigues Vieira nos passa com essa história de uma amizade entre uma cachorra e uma minhoca, a beleza desse sentimento tão importante em nossas vidas. Com clareza e simplicidade, esse é um livro para ser lido por todas as crianças do mundo, pois a história é maravilhosa e seu conteúdo, magnífico!!
Caio Blat

              Era uma vez uma linda cachorrinha chamada Juliet. Ela tinha a forma de uma salsicha e um rabinho lindo que vivia abanando, só parava quando Juliet, que era muito sapeca, se cansava de tantas estrepulias e ia dormir.
           Um dia, Juliet, que nunca saía de casa, viu a porta aberta e sentiu grande curiosidade de saber o que tinha lá fora, e lá foi a cachorrinha sapeca em forma de salsicha com o rabinho sempre abanando e o olhar alegre, rua afora, feliz da vida.
           Juliet adorava fazer amigos, ela tinha muitos amigos humanos que sempre iam com sua cara, e o que ela mais gostava de ganhar deles era um belo carinho na barriga, nada deixava Juliet mais feliz!!!
           Juliet havia se deitado para fazerem carinho em sua barriga na rua, mas ninguém fazia, eram todos muito apressados, nem notavam sua presença, e ela, tadinha, não havia conseguido nenhum amigo ainda.
           E lá ia a cachorrinha toda triste pela rua, toda triste, quando viu uma minúscula linha marrom na calçada que se mexia! Juliet se aproximou para ver, e, para sua surpresa, era uma minhoquinha! Juliet tentou, conversar com a minhoquinha, e, para sua surpresa, como a minhoquinha era simpática!
          - Você quer ser minha amiguinha? – perguntou Juliet à minhoquinha.
           - Hum... claro que eu quero! – disse a minhoca – apesar de nunca ter tido uma amiga orelhuda e com rabo, ainda... você é muito legal, salsichinha. Se não fosse tão grande, poderia até parecer alguém da minha espécie.
          Juliet ficou toda feliz.
         - Ai , que legal, minhoquinha. Agora que você é minha amiguinha, faz carinho na mina barriguinha?
         A minhoquinha, então, depois que Juliet se deitou no chão, tratou logo de subir e rastejar pela barriga da amiga.
        Hááá! Que delícia! Juliet nunca recebeu um carinho tão bom como este da minhoquinha.
         A minhoquinha e Juliet estavam conversando quando um olhar de terror tomou conta da amiguinha de Juliet. Era um pintinho que se aproximava, ele tinha visto a minhoquinha e vinha correndo devorar a coitadinha.
        Como não dava tempo da minhoquinha fugir, ela apelou mais do que depressa para sua amiga, mas Juliet, tadinha, não conseguia entender o perigo, tinha o coração tão bom e ingênuo! Por que não poderiam ser amigas daquele pintinho? Ele poderia coçar sua barriguinha, pensou ela.
          A minhoquinha, esperta que era, entendeu a situação, gritou:.
          - Amiguinha, ele quer ser nosso amigo. Faz carinho na barriguinha dele, senão ele vai ficar chateado e vai embora.
            Juliet mais do que depressa correu em direção ao pintinho para dar uma bela lambida de amizade, nele. Mas assim que o pintinho viu aquela salsicha enorme vindo em sua direção, saiu correndo assuatado.
Juliet não entendeu, coitadinha, mas a minhoquinha tratou logo de consolar a amiga, que logo já estava feliz da vida de rabo abanando. Mas logo a alegria acabou, quando a minoquinha disse que tinha de ir embora, pois o minhocão deveria estar preocupado, e Juliet também deveria ir para casa, pois seus donos deveriam estar desesperados. E a minhoquinha ajudou Juliet a voltar para casa, e as duas amiguinhas, com o coração apertado, se despediram, tendo a certeza de que jamais se esqueceriam uma da outra.
           A história ainda não acabou, Juliet voltou para casa, encheu seus donos de lambidas, e, qual foi a sua surpresa dias depois, quando roía seu osso no jardim e encontrou sua amiga minhoca. E ela trazia junto o minhocão e os minhocozinhos. Há, como Juliet ficou feliz! Ela arrumou lugar para a minhoquinha e sua família morarem no quintal de sua casa, foi a madrinha dos minhocozinhos e as duas amiguinhas nunca mais se separaram.


A AIDS
1994 – aos 11 anos.


O vírus o atingira.
A doença a afligira.
A AIDS o pegara.
E por fim o matara.
Sem corpo flutuava
e do que fizera lembrava -
das coisas que perdera
e dos amigos que entristecera.
A droga o tomou
e a vida lhe tirou
e de bobeira perdeu
tudo o que Deus lhe deu.
Mas naquela hora enfadonha
se atirara à maconha,
mais tarde à cocaína
e também à heroína.
A agulha por todos era usada,
de mão em mão era passada,
e o vírus foi passando
e a todos contaminando.
Por fim veio-lhe a morte,
mas não foi falta de sorte,
fora ele quem quis assim
lavar-se a esse triste fim.
Mas quando ela chegou
E deste mundo o levou,
o que lhe restara viu
e o arrependimento surgiu.


O zoológico de Aninha

Aninha era uma menina de quatro anos que não tinha irmãos nem primos com quem brincar.
O que você quer ganhar de aniversário, Aninha? – perguntavam para ela.
Quero um amiguinho para me fazer companhia. – respondia a garotinha.
Mamãe percebia quanto tempo a filha ficava debruçada sobre o muro, a olhar a gata da vizinha, que amamentava a ninhada estirada à sombra do tanque.
Papai, ao lhe dar boa noite, a encontrava abraçada ao Totó, velho cachorrinho de pano já todo rasgadinho, de olhos desbotados de tanto ser carregado para cá e para lá.
O tio avô a levou para passear e viu como ela olhava encantada para os passarinhos nas praças.
A avó precisava chamar por ela repetidas vezes quando fazia compras no mercadinho, porque a garota se debruçava sobre o viveiro de tartarugas que havia separando as lojas das lanchonetes.
O tio acompanhou a sobrinha ao Aquário em um domingo e não conseguia afastá-la dos peixinhos coloridos vindos do Rio Amazonas.
Um dia antes do aniversário de Aninha, mamãe disse que ela precisava escolher seu presente e foi com ela até a casa da vizinha. Ali, olhando os gatinhos bem de perto, Aninha pôde escolher um para ela. Eles ainda eram muito pequeninos, mas a vizinha garantiu que Aninha poderia levar o gatinho para casa antes do fim do mês, quando ele já estivesse desmamado.
Aninha deu um beijo na mãe.
Aninha foi dormir feliz, para acordar com papai, que dizia:
- Está aí um rapaz que veio entregar o meu presente para você.
Curiosa, Aninha foi até o portão, depois de escovar os cabelos e vestir o seu roupão, é claro.
Um rapaz de boné abaixou a tampa traseira de uma caminhonete e de lá tirou uma gaiola, dessas usadas para transportar animais, de onde tirou um cachorrinho tão pequeno que cabia direitinho no colo de Aninha. Um cãozinho peludo de olhos pretos como jabuticabas lambeu as mãos da menina, feliz por sair do cativeiro.
Aninha deu um abraço bem apertado no pai.
Antes do almoço, vovó apareceu com um terráreo, onde duas tartaruguinhas de água doce esticavam os longos esverdeados pescoços.
Ah, que olhar amoroso Aninha lançou para a avó!
O tio veio em seguida, com um aquário tipo móvel, cheio de plantas ornamentais, enfeites imitando barcos naufragados e cinco coloridos peixinhos.
Só faltava o tio avô, que chegou para o lanche com uma gaiola e um casal de periquitos.
Logo chegaria a hora de cantar os parabéns e cortar o bolo, e quem convencia Aninha a entrar no banho e colocar vestido novo?
- Aninha, censurou ,mamãe, você agradeceu pelos presentes?
Aninha era uma menina calada, que falava pouco. Neste dia ela estava tão emocionada que nem conseguia abrir a boca.
- Ela agradeceu com seu sorriso – explicou a avó, como se a mãe precisava de uma explicação.
O sorriso de Aninha, as estrelas em seus olhos, seus suspiros, toda aquela alegria falava por ela.