Calor e alegria-
A luz invade a manhã,
Mudando o cenário.
Ao sol de verão,
Eu vejo a pena voando,
Liberta do pássaro.
Nas águas revoltas,
A piracema noturna -
Riscos prateados.
Embalo na rede
A criança adormecida –
Tarde de verão.
Carnaval sem baile,
Sem desfile e sem confete-
Invenção do Beto.
Sol de inverno –
O seu brilho é tão distante
Longas são as sombras.
Na manhã de outono
O vento do pólo sul
Junto ao sol dos trópicos
Na tarde de outono
As asas-delta bailando –
Voar é um sonho.
Cabelos à mostra
No cobertor enrolado –
Panqueca mirim
Porção de pinhão
Reúne a família toda
E aquece o serão.
Nem sol nem areia
Só a neblina espessa e branca
Ouve o som das vagas.
Em cima da cama
Um cobertor amassado
E um focinho à mostra.
Na manhã de outono
Frutas caídas no chão
Pincelando aromas.
Rodopiando as nuvens
Ventos pincelam nos céus
A manhã de outono.
No vidro, o convite-
O orvalho da madrugada
É úmida tela.
Criançada alegre
Rabiscando com os dedos
O orvalho da noite.
Manhã orvalhada –
Nas pétalas das camélias
O sol vira estrelas.
Manhã de verão
Os navios no horizonte,
Menores que conchas.
Jogando baralho
O tédio vira prazer –
Estação chuvosa.
Estação chuvosa -
A praia tão desejada
Por trás da vidraça
Tudo se confunde
Na neblina acinzentada –
Estação chuvosa .
Na densa neblina
O silêncio do mar pesa.
Estação chuvosa.
Deitado na grama -
A música das cigarras
Penetrando em mim.
Trabalho contente
A música das cigarras
Vai marcando o ritmo.
Perfume envolvente
Passeio devagar entre
Lírios amarelos.
Camélias na praia
Entorpecendo de amor
Jovens no jardim.
Água transparente
No mais profundo da gruta
Armadilha à espreita.
Água transparente
No silêncio da floresta –
Convite ao descanso.
Dedinhos travessos
Lá no fundo do regato –
Água transparente.
Brilha a areia branca
Por entre os seixos rolados –
Água transparente.
É tal gritaria!
Parece haver todo um bando
Maritaca só.
Lingüinha macia
- carinho de maritaca
um instante quieta.
Maritaca chefe
A seu grito o bando parte
- floresta voadora.
Goiaba madura
Pés descalços no capim
Menino feliz.
As cores sumindo
No girar do cata-vento
Menino surpreso.
Cadê o vermelho?
No girar do cata-vento
Tudo fica branco.
No meio das folhas
Passarinho amarelo
- surpresa de inverno.
Varro, embevecida
Sinfonia de cigarras
Alegra a faxina.
Canto de cigarras
O ar parece tremer
E os pássaros calam.
Chove. Mesmo assim
Cigarras estão cantando
Com muito entusiasmo.
Cigarras às dúzias
Parecem jabuticabas
No tronco cantante.
Jogo a serpentina
Nos cabelos da morena
Novos cachos – loiros.
Parece que ouço
Violinos e castanholas –
Música cigarra.
Varanda quentinha
A passarada outonal
Visita meus vasos.
Silêncio. Adivinho
A passarada outonal
Através das folhas.
Encolhe-se, muda,
A passarada outonal.
Rouba a cena o vento.
Perfume francês
E uma abelha requintada
- picada na orelha.
Palmeira – por ela
Passo todas as manhãs.
Cúmplice discreta.
Aquarela viva –
A mulher olhando os lírios
Na manhã chuvosa.
Faxineira idosa.
Tão bonito varrer flores
Ao cair da tarde.
Aparece tímida
Úmida, leve, a flutuar...
frágil borboleta.
Leva meu chapéu
O vento da primavera
Expondo-me à vida.
Ínfimo biquíni
Limita meus movimentos
Prisão de verão.
Ínfimo biquíni
Limita meus movimentos
E minhas escolhas.
Ínfimo biquíni
E belos olhos risonhos -
Prisão de verão.
Ínfimo biquíni
E belo andar ondulante -
Prisão de verão.
Um grito de susto-
Lagartixa transparente
Contra a luz acesa.
No noite ventosa, um
Baque gelado no braço
- lagartixa foge.
Ribombo na noite
Silenciosamente salto
Num acorde estranho
Mudança de rumo –
Sinto em minha face
O vento de primavera.
Oportunidade
De ser de novo criança –
Aula de haicai.
Voa livre e longe
Andorinha pequenina -
Alma peregrina.
Ouço um pio distante.
Perdida na imensidão
Andorinha só.
Domingo de chuva.
Piquenique sem formiga
Na sala de estar.
Frescor e alegria
Sob a sombra da paineira –
Farto piquenique.
Súbita tormenta.
Navio encalha na praia
Em meio à neblina.
Bolo de fubá
Um regalo de criança
Na casa da avó.
Bolo de fubá
Salpicado de erva-doce
Tempero da tarde.
Bolo de fubá
Amarelinho e cheiroso
À mesa florida.
Natal do El Niño
No tempo que enlouqueceu
O menino acorda.
O meu coração
Em ritmo de esperança
Doido como o El Niño.
Tudo fica bege
Na paisagem vendaval
Invadindo a praia
O vento na praia
Faz cata-ventos de folhas
Nos chapéus de sol
Círculos de folhas
Arrastadas pelo vento
- selvagem beleza.
O vento nas folhas,
Súbito, belo, selvagem,
Assobia, sim.
Rodam, rodam, rodam,
Das arvores gigantescas
Os galhos ao vento.