segunda-feira, junho 12, 2006

Entrevista com Eunice Mendes

Eunice Mendes é natural de Santos/SP. Formada em Jornalismo. Edita com Walmor Colmenero, a revista literária artesanal POETIZANDO, a folha poética A POETISA e o zine ÁRVORE AZUL, pelo selo ARTESANIA. Possui vários livros de poemas organizados e registrados na Biblioteca Nacional. Tem poemas publicados em vários jornais, revistas, zines e sites.
contato: walmordario@ig.com.br ou revistapoetizando@yahoo.com.br

Como a poesia entrou em sua vida?

A poesia sempre esteve presente em minha vida. A poesia viva que vestia estrelas dentro dos vidros sextavados dos cristais, que desenhava pássaros no emaranhado de linhas da textura da napa do sofá, passava nuvens dentro das poças de chuva do meu quintal... O primeiro poeta que me sensibilizou foi Drummond, com os versos "perdi o bonde e a esperança..."

A convivência com grupos poéticos influencia a sua criação literária?

Não. Gosto dos grupos pelas amizades, leitura dos poemas e o convívio humano, que é sempre salutar. Minha criação literária é um processo solitário de individuação. Evidente que a arte é a depuração da vida e todo convívio, não só o literário, faz parte desse processo.

Acha que é importante para o aprimoramento da técnica o estudo teórico das obras dos mestres? Comente.

Talvez nem tanto um profundo estudo teórico mas, essencialmente, a leitura e não somente dos mestres, mas de tudo que der prazer: gibi, quadrinhos, jornais, etc; e não somente literatura: cinema, teatro, dança, música, artes plásticas, porque a arte é um corpo com várias linguagens. Conhecer novos autores, novos estilos, estar aberta. Escrever é paixão. Toda paixão é mergulho, aprofundamento.

O leigo ouve com surpresa a expressão ‘poesia falada’. É diferente ler e ouvir poemas? A qual forma de divulgação o público é mais receptivo?

A diferença está na interpretação. Cada um lê a seu modo. Cada leitura é uma versão pessoal. Não sei a qual forma de divulgação o público seria mais receptivo. Não tenho essa informação. Sou receptiva a ambas.

Um diferencial da Poetizando são os delicados e originais marcadores de páginas que você faz com os mais diferentes materiais. Além da poesia, você se dedica a outras formas de arte?

Tenho alguns trabalhos nas áreas de fotografia, artes plásticas e artesanato de reciclagem. Aprecio todas as modalidade artísticas.

Fale algo sobre a sua poesia erótica, que é ao mesmo tempo, elegante e provocativa. E definitivamente feminina.

Não há muito o que dizer pois tudo está expresso na linguagem poética, própria do erotismo que é, em si, poesia. Quem não o vê dessa forma, ainda não o alcançou em sua plenitude. Escrevo simplesmente como sinto.

Em sua opinião, a distribuição de zines e textos de mão em mão, por xérox ou por replicação de e-mails consegue divulgar satisfatoriamente a literatura dita alternativa?


Satisfatoriamente, infelizmente não. Os recursos são escassos e os meios não são acessíveis a todos. Não há interesse econômico voltado à literatura, seja ela alternativa ou não. Aliás, não vejo essa distinção entre literatura e literatura alternativa. Alternativos são apenas os meios de divulgação.

Na Antigüidade não existiam muitos livros, mas declamavam-se longos textos de uma geração à outra. Você tem alguma experiência com grupos de leitura? Percebe em sua cidade uma boa aceitação por este tipo de atividade?

Minha experiência com grupos de leitura vem da escola. Naquela época tínhamos uma aula semanal dedicada à leitura de textos. Eu adorava! Acho que estes grupos vêm crescendo na cidade e a aceitação também. Isto é muito bom. Quanto mais grupos, melhor. Quem ganha somos nós, os amantes da literatura.

Entre dois extremos, como você classificaria o Brasil: um país de leitores potenciais sem acesso a livros ou um país de escritores ávidos por leitores inexistentes?


Nenhuma das alternativas. Entre os dois extremos existe muita complexidade social, política, econômica e cultural. O Brasil é um país que está se tornando inclassificável. Não resolvemos problemas básicos de saúde, educação, habitação, cultura, desemprego, analfabetismo. O potencial dos leitores está caminhando de mãos dadas com os talentos massacrados pela luta da sobrevivência diária, a qual somos obrigados, num país onde as oportunidades não são iguais para todos. Em resumo: tudo perpassa pelo crivo da miséria, mãe de todos os males.

Diga algo – importante para você – sobre o que quiser, para nossos leitores.

...
a poesia é costura desfiada
a gente puxa o fio solto
e ele desliza, infinito
até construir outro tear
...

E obrigada por colaborar com a Alegria de Ler.

Eu que agradeço a oportunidade de divulgação do meu trabalho. Paz e Poesia!


Poesias

claras ramagens
dançam flores amarelas
sonhos do vento

pálidas réstias de sol
perdidas na paisagem

in: Sonhares (2003) - Eunice Mendes


o pássaro possível
em minha mão
é mudo

feito de silêncio e asas
sobrevoa tudo
como se tudo fosse sua casa
e nada
depois se recolhe e se guarda
na fôrma da minha mão
vazia,
pousada

in: Aurora Gris (2003) - Eunice Mendes

Um comentário:

Anônimo disse...

Querida amiga Sonia, ...


Show de bola, a sua entrevista.

Nossa, eu adoro a Eunice e
cada vez que nos encontramos,
meu coração faz aquela festa.

Lamento ser tão pouco tempo,
o nosso diálogo e colocar as idéias em dia.


No todo, voces ...
minhas amigas poetas, que vem me incentivando e dando-me o apoio necessário nas horas difíceis.


Parabéns Sonia pela Entrevista.

Beijos, ...


- Quanto ao teatro desta semana -
Sem pique, ok ?

O site indicado é onde voces podem procurar poemas meus dedicados ou não aos meus musos.

- www.serpoeta.com -
buscar poemas e digitar meu nome.