- Bebedouro ? Nunca ouvi falar nesssa cidade.
- Como não ? É a capital da laranja.
- E como é que você foi trocar nossas praias pelos laranjais ?
- Lá tem emprego, coisa que aqui no Rio anda difícil.
Fiquei pensando nas palavras de minha amiga. Visitei - a nas férias. E no ano seguinte, eu também estava em Bebedouro.
Deixei a insegurança das ruas, o medo dos assaltos e o trânsito enlouquecedor para trás. Troquei o apartamento, grades, trancas e chaves, por uma casinha com jardim e quintal.
Mantive o mesmo emprego, porém, que diferença no padrão de vida! Que saudável sossego!
Logo na primeir semana fui à secretaria do clube .
- Quero comprar um título.
- Mas eu não sei quem a senhora é.
- Não pode ao menos informar o preço ?
- No momento não temos títulos à venda.
Mas no dia seguinte, meu vizinho bebedourense acompanhou - me ao clube, apresentou - me e apareceu um título disponível para a amiga do Geraldo.
Aonde quer que eu fosse, sentia - me estrangeira.
- A senhora é de Bebedouro ?
- Não.
- Logo vi. Não a conheço.
O sorriso congelava na face e eu podia quase tocar o muro de polida indiferença que se erguia à minha frente.
Até que aprendi com uma amiga a contar uma mentirinha.
- A senhora é de Bebedouro ?
- Nascida e criada.
- Como não a conheço ?
- É que saí para estudar fora.
- Ah!
Mas era um ah! cheio de simpatia!
Logo fui - me infiltrando aqui e ali e em breve tinha um bom círculo de relações. Só me faltava mesmo um namorado.
- Você veio para a cidade errada - dizia a minha amiga carioca - Aqui não se arranja ninguém.
Havia um solteiro em meu emprego, mas, definitivamente, nada tínhamos a ver um com o outro. E um vizinho, francamente hostil a minhas tentativas de aproximação.
Comecei a sair. Para descobrir que a noite é dos pivetes e dos mal casados.
Perguntei para as comprometidas como haviam conhecido seus maridos e namorados e obtive dois tipos de respostas :
- Estudamos juntos.
- Alguém nos apresentou.
É isto ! Em uma cidade de valores tão tradicionais é preciso ser apresentada. E saí à cata de uma apresentação junto às pessoas mais chegadas.
- Afinal, eu preciso conhecer alguém de acordo.
As pessoas colaboraram. E fui apresentada a irmãos, primos, cunhados e amigos de família.
. Eu não entrosava com ninguém.
- É impossível ! Você esqueceu como namorar !
- Não é isso. É que não há afinidades.
Aí alguém lembrou de um astrólogo que analisava a personalidade das pessoas por computador.
- Se ele não for capaz de arrumar um companheiro para você, ninguém pode.
E assim, em uma bela tarde de sábado, recebi das mãos do tal astrólogo uma lista com três datas.
- O marido ideal para você nasceu em um desses três dias.
- Só ?
Também não precisava ser tão ideal assim...
- Seu caso é muito especial. - essas foram as exatas palavras dele - Se nós excluirmos os casados, os não brancos , os pobres, as crianças e os velhos, você tem uma chance em dezoito mil de encontrar um homem afim com você.
E ante o meu olhar de espanto, ele completou :
- Quase impossível. Por que você não procura no cartório ? Diga que eu pedi.
E assim, lá fui eu ao cartório. Voltei com dez nomes.
- Este mudou - se. Este casou. Este morreu. Este...
Esgotou -se a lista. Nenhum disponível.
Desanimador!
Não desisti, porém, de procurar. E certa manhã, no lago, passou por mim um exemplar masculino da idade certa, atraente e charmoso. Passamos do sorriso ao diálogo e encontrei - me acompanhada de um espécime SOLTEIRO !
Uma chance em dezoito mil e eu fui encontrar o meu homem justamente em Bebedouro! A cidade realmente foi generosa comigo, reservando especialmente para mim um simpático e disponível bebedourense!
Era bom demais para ser verdade!
Você já adivinhou a verdade ?
Aposto que não.
Ele também é carioca.
Estamos voltando
Há 11 anos
Um comentário:
Oi Professora,
Voltei para deixar o meu abraço.
Este blog foi o primeiro que li, em língua portuguesa, quando tinha me decidido a blogar: 2004/2005.
Eu nunca me esqueci. Vi seu belo trabalho, o carinho com as palavras, livros, leituras, Santos...
Sou cristão, depois evangélico; ainda muito distante de escrever bem, mas continuo entusiasmado, por acaso (e não por competência) o primeiro blog cristão na busca do Google há alguns anos.
Quando quiser, faça-me uma visita: blog olhar cristão.
joão b. cruzué
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