terça-feira, julho 12, 2011

UM PEIXE NO POMAR

- Bebedouro ? Nunca ouvi falar nesssa cidade.

- Como não ? É a capital da laranja.

- E como é que você foi trocar nossas praias pelos laranjais ?

- Lá tem emprego, coisa que aqui no Rio anda difícil.

Fiquei pensando nas palavras de minha amiga. Visitei - a nas férias. E no ano seguinte, eu também estava em Bebedouro.

Deixei a insegurança das ruas, o medo dos assaltos e o trânsito enlouquecedor para trás. Troquei o apartamento, grades, trancas e chaves, por uma casinha com jardim e quintal.

Mantive o mesmo emprego, porém, que diferença no padrão de vida! Que saudável sossego!

Logo na primeir semana fui à secretaria do clube .

- Quero comprar um título.

- Mas eu não sei quem a senhora é.

- Não pode ao menos informar o preço ?

- No momento não temos títulos à venda.

Mas no dia seguinte, meu vizinho bebedourense acompanhou - me ao clube, apresentou - me e apareceu um título disponível para a amiga do Geraldo.

Aonde quer que eu fosse, sentia - me estrangeira.

- A senhora é de Bebedouro ?

- Não.

- Logo vi. Não a conheço.

O sorriso congelava na face e eu podia quase tocar o muro de polida indiferença que se erguia à minha frente.

Até que aprendi com uma amiga a contar uma mentirinha.

- A senhora é de Bebedouro ?

- Nascida e criada.

- Como não a conheço ?

- É que saí para estudar fora.

- Ah!

Mas era um ah! cheio de simpatia!

Logo fui - me infiltrando aqui e ali e em breve tinha um bom círculo de relações. Só me faltava mesmo um namorado.

- Você veio para a cidade errada - dizia a minha amiga carioca - Aqui não se arranja ninguém.

Havia um solteiro em meu emprego, mas, definitivamente, nada tínhamos a ver um com o outro. E um vizinho, francamente hostil a minhas tentativas de aproximação.

Comecei a sair. Para descobrir que a noite é dos pivetes e dos mal casados.

Perguntei para as comprometidas como haviam conhecido seus maridos e namorados e obtive dois tipos de respostas :

- Estudamos juntos.

- Alguém nos apresentou.

É isto ! Em uma cidade de valores tão tradicionais é preciso ser apresentada. E saí à cata de uma apresentação junto às pessoas mais chegadas.

- Afinal, eu preciso conhecer alguém de acordo.

As pessoas colaboraram. E fui apresentada a irmãos, primos, cunhados e amigos de família.

. Eu não entrosava com ninguém.

- É impossível ! Você esqueceu como namorar !

- Não é isso. É que não há afinidades.

Aí alguém lembrou de um astrólogo que analisava a personalidade das pessoas por computador.

- Se ele não for capaz de arrumar um companheiro para você, ninguém pode.

E assim, em uma bela tarde de sábado, recebi das mãos do tal astrólogo uma lista com três datas.

- O marido ideal para você nasceu em um desses três dias.

- Só ?

Também não precisava ser tão ideal assim...

- Seu caso é muito especial. - essas foram as exatas palavras dele - Se nós excluirmos os casados, os não brancos , os pobres, as crianças e os velhos, você tem uma chance em dezoito mil de encontrar um homem afim com você.

E ante o meu olhar de espanto, ele completou :

- Quase impossível. Por que você não procura no cartório ? Diga que eu pedi.

E assim, lá fui eu ao cartório. Voltei com dez nomes.

- Este mudou - se. Este casou. Este morreu. Este...

Esgotou -se a lista. Nenhum disponível.

Desanimador!

Não desisti, porém, de procurar. E certa manhã, no lago, passou por mim um exemplar masculino da idade certa, atraente e charmoso. Passamos do sorriso ao diálogo e encontrei - me acompanhada de um espécime SOLTEIRO !

Uma chance em dezoito mil e eu fui encontrar o meu homem justamente em Bebedouro! A cidade realmente foi generosa comigo, reservando especialmente para mim um simpático e disponível bebedourense!

Era bom demais para ser verdade!

Você já adivinhou a verdade ?

Aposto que não.

Ele também é carioca.

Um comentário:

Joao Cruzue disse...

Oi Professora,

Voltei para deixar o meu abraço.

Este blog foi o primeiro que li, em língua portuguesa, quando tinha me decidido a blogar: 2004/2005.

Eu nunca me esqueci. Vi seu belo trabalho, o carinho com as palavras, livros, leituras, Santos...

Sou cristão, depois evangélico; ainda muito distante de escrever bem, mas continuo entusiasmado, por acaso (e não por competência) o primeiro blog cristão na busca do Google há alguns anos.

Quando quiser, faça-me uma visita: blog olhar cristão.

joão b. cruzué


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