quinta-feira, abril 21, 2005

novidades da semana




HAICAI DE MESTRE

caramujo,
sobe sem pressa
o monte Fuji


Issa

O haicai é a menor forma poética do mundo, de origem japonesa. Não tem rima e sempre nos remete a um tema da natureza, neste caso, o caramujo.
Sites de literatura que recomendo a você:

www.ocaixote.com.b
www.blocosonline.com.br
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Boa leitura!!
DICA DE SUCESSO

“Uma das condições mais necessárias para fazer coisas dignas de louros consiste em não ter medo de censuras”
A. Graf
LIVRO ON LINE: DIAS DE OUTONO
parte 5
@ da autora
neste diário interior, onde as datas não importam, a vida que está oculta sob a pele, não vivida, mas pensada...
1996



A senhora pobre elogiou o Pantaleão dos Andradas. E eu admirei a delicadeza de sentimentos de minhas acompanhantes, três elegantes senhoras de elite, que educadamente responderam a seus comentários sem corrigi-la.
Nosso povo iletrado é assim mesmo: sofre de dor no figo e de dilatação; quando sabem expressar melhor suas mazelas estão aperreados e avexados, que é ‘desse jeito aí como a senhora está vendo’, e o que a gente vê é mesmo muita miséria com o seu corolário interminável de desgraças.
A minha admiração durou pouco, pois a pobre afastou-se e as ricas continuaram a pantalear. Arrisquei uma frase com Panteão e elas cortaram-me a palavra de imediato:
- Pantaleão, querida. Panteão é coisa de grego.
Não me contive e comuniquei àquelas emproadas que o templo grego situado em Atenas e construído em homenagem à deusa da sabedoria chama-se Partenon.
Panteão é coisa dos romanos supersticiosos que, com medo de ofenderem por esquecimento algum dos inumeráveis deuses cultuados em seu vasto império, construíram por precaução um templo dedicado ao mesmo tempo a todos os deuses, o Panteão.
E os Andradas por um acaso são deuses para terem lá o seu Panteão?
O caso é que os loucos imperadores romanos gostavam de ser cultuados em vida e adorados como deuses pelo povo, e após a sua morte, eram enterrados com pompas divinas. Daí o termo Panteão ter adquirido, por extensão, o significado de edifício onde se enterram os restos mortais das figuras ilustres da História de um povo.
Minha sorte foi uma das matronas ter na bolsa um Aurélio, que confirmou as minhas palavras.
E quanto a Pantaleão? O que é?
É nome próprio, como José, Rosa, João e tantos outros mais meio que esquecidos, pois a moda agora é ter nome de gente importante; é por isso que os brasileirinhos de hoje chamam-se Romário, Aírton, Upiudi ou Maiquijaquiçom.





Lendo sobre a guerra da Bósnia-Yerzegovnia, ouso propor uma solução para a Iugoslávia:
Ah! Esses iugoslavos! Deveriam vir ao Brasil.
Um sérvio e um albanês começariam uma discussão e seriam imediatamente rodeados pela turma do deixa disso.
Nossos iugoslavos ficariam espantados em ver, juntos, um ariano, um semita, um nórdico, um árabe, um negro e um oriental. Mais espantados ainda ficariam ao ver o ariano bater amigavelmente no ombro do negro e contar uma piada, ‘aquela do judeu e do general nazista no campo de concentração’.
Entre muitas gargalhadas, o árabe retrucaria com ‘aquela do cristão cujo avião caiu no deserto e encontrou um muçulmano’. E o nórdico, a rir, continuar com ‘aquela do japonês que visitou a Bahia e entrou em um terreiro de candomblé’
A esta altura, alguém sugeriria aos novos amigos iugoslavos um ‘loira gelada’ e um brinde à Paz. E já em clima de confraternização, vocês conhecem ‘aquela do albanês e do sérvio que eram vizinhos e aí ...’
Aí os nossos iugoslavos seriam forçados a rir-se da imbecilidade humana e concordariam em deixar pra lá as suas diferenças, já que, vivendo todos no mesmo planeta, somos, todos, companheiros de viagem.



Mais anotações para futuras palestras: inspiração e criação ou A Arte como Terapia.
Arte não é comércio, é como respirar, quase um ato fisiológico.ninguém faz arte porque quer, faz arte porque precisa. É comunicar-se ou enlouquecer.
Somos influenciados pelo estilo de nossos autores prediletos, em meu caso Monteiro Lobato.
Hoje em dia Edgar Alan Poe e Fernando Sabino, cuja técnica eu aprecio especialmente.
Eu percebo que emoções fortes transformam-se em devaneios, imagens coloridas e vivas, que ficam querendo sair, agitadas em meu cérebro. Esta inquietação mental começa a tomar um significado, dá origem a uma gestação mental que só se acalma quando a idéia vem à luz: o parto mental. Este é o processo de criação, para mim, em qualquer arte:
Emoção – perturbação psíquica – idéias desorganizadas – ideais organizadas – muito trabalho técnico – criação.
Eu começo a escrever se m censuras, deixando as idéias fluírem do jeito que saem, espontaneamente, para o papel, por mais sem sentido que pareçam.
A arte é uma forma poderosa de catarse em todas as suas manifestações: música, pintura, literatura etc


Os sonhos são interessantes elaborações de conflitos internos que aparecem com histórias simbólicas prontas de grande impacto emocional.
Certa vez li um de meus pesadelos a uma grupo de amigos escritores e cada um deu para a história uma interpretação completamente diferente. Eu mesma, tendo sonhado aos doze anos, só encontrei a chave simbólica aos 35. ele referia-se à passagem da vida de menina para a de mulher, ‘não há volta’, e a chave para decifrar este símbolo são as letras escritas com sangue, a menarca.
O símbolo tem esta plasticidade, esta particularidade de prestar-se a várias interpretações em seus vários níveis de complexidade e de acordo com o estado de cada um em determinado momento.
Em resumo, a criação é uma forma elaborada de transformar o sofrimento em arte, a exposição da realidade interna do artista.



A Laudelina, quando lhe pedem um poema, não se faz de rogada:
- Para quando? Qual o assunto? É para comemorar alguma data especial?
Pois não é que aquela mercenária fazia versos por encomenda? Eu me indignava. Literatura não é culinária!
Cada artista, contudo, cria lá a seu jeito e gosto, e poetas são criaturas estranhas de hábitos bizarros, apesar de irem à praia e ao supermercado como toda a gente. Bem... quase como toda gente.
Aquele cidadão que suspira extasiado ante as frutas empilhadas, que fala de ‘figos solenes’, ‘sabor de avó’ e em ‘amoras comidas com sol’, já se sabe – é um poeta.
Que dizer da amiga que se inspira quando se molha? Larga a louça por lavar, sai do chuveiro pingando pela casa e esbarra conosco na rua a correr debaixo de tempestade, e, quando, solícitos, lhe estendemos o guarda-chuva, ela nos surpreende:
- Caneta e papel, urgente!
Eu pertenço `a família dos que são acordados à noite pela idéia:
- Psiu, estou aqui!
Estendo a mão, acendo o abajur e anoto rápida as frases boêmias no bloco que tenho sempre à mão, preparada para estas investidas noturnas.
Há quem se inspire ao ouvir o som do mar, talvez por isso Santos seja berço de tantos poetas.
Bom, leitor, de hoje em diante, quando você vir uma distinta senhora a escrever na areia, ou alguém o abordar à mesa do bar com o pedido insólito de ‘um guardanapo, rápido, por favor’ ou, na fila do banco, alguém a escrever furiosamente na capa do talão de cheques, sorria – você encontrou um poeta.


Tive cinco filhos gêmeos e troco todos eles por um cesto com cinco gatos.
Um sonho sobre projetos e oportunidades. Os gatos têm sete vidas, portanto são sete novas possibilidades, maiores chances de sucesso. Filhos são projetos.


Escrevo sobre um garoto radioativo e sua irmã invisível, no estilo de O Mundo de Bob.
Eu, hien? Que sonho mais estranho...


1997




É de manhã, quando passeio na praia, que tropeço em haicais. O mar, o céu, a areia, jardins, insetos – uma multidão de kigos no espaço que restou de natureza na ilha concretada. Aí sou feliz. Ouço o mar, tão caro a meu coração, cantiga de ninar para quem nasceu caiçara. Ouço os pássaros, as cigarras, as borboletas... sim, as borboletas cantam, o vento dança e nuvens desenham o céu.
É de manhã que me abasteço de poesia para fortalecer-me. Depois finjo-me guerreira, quando em meu coração o desejo é de partilha. E como uma tigresa convivo pacificamente com borboletas e flores, apoiando-me nos forte troncos, atenta ao ciclo das estações.
Aguardo a manhã seguinte.




Minha mãe brigou a noite toda comigo, dizendo severamente: Egoísta! - e eu quieta, concordando.
Um sonho de culpa e auto-recriminação. Qual a utilidade deste sonho? De outra parte, está relacionado ao passado, de que adianta resolver o passado?


Viagens de férias. Sorvetes. Tudo o que é bom parece acontecer no verão. É uma exuberância de frutas, um não acabar mais de passeios ao ar livre, e quando se mora à beira mar, então, há um vasto leque de diversões à escolha. Caminhadas na praia, mergulho, natação, pescaria, passeios de barco e toda sorte de esportes aquáticos.
Claro, nem sempre o calor é agradável. Para quem trabalha exposto ao tempo, sem ventilador, sem ar condicionado, fazendo esforço físico, não é nada divertido.
Há dias em que a temperatura sobe tanto que, visto de longe, o asfalto parece água, e a paisagem junto ao solo estremece, distorcida pelas ondas de calor. Dias em que, já pela manhã, tudo parece queimar a nossa pele _ o sofá, os lençóis, e até das torneiras jorra, à temperatura ambiente, um líquido escaldante e nada convidativo. Dias em que nada refresca - nem banho, nem piscina, e mesmo os aparelhos de ar condicionado não conseguem amenizar o mal estar. Dias em que a única atitude sábia é encolher-se à sombra, como um bichinho, imóvel, esperando, pois está quente demais até para se conseguir dormir. (deveria haver um verbo para a suspensão temporária das funções vitais provocadas pelo calor extremo, uma espécie de hibernação às avessas)
Um dia como o de ontem, que dizem ter sido o mais quente dos últimos cinqüenta anos. O solstício de verão já acontecera, mas parecia que a Terra continuava, distraída, a inclinar-se mais e mais em direção à fonte da vida.
Foi com certeza em um dia assim que um grego imaginou a lenda de Faetonte, o mortal que dirigiu o carro do sol tão desastradamente, chegando tão próximo que quase incendiou o planeta.




Desastre de Carnaval.
Esta é de arrepiar! No Rio, a escola aguarda sua vez de entrar no sambódromo. O enredo da escola era sobre os ciganos. Um cigano passa pelo belíssimo carro alegórico, olha e comenta: vocês esqueceram um elemento fundamental, o fogo. Onde há ciganos, há fogo.
A escola entrou na Sapucaí e o carro pegou fogo.


Devo agradecer ao FHC. .
Há anos com o salário congelado, só tenho a agradecer ao senhor presidente pelas melhorias na minha qualidade de vida.
Vejamos. A princípio, parei de comprar jornais e revistas, passando a ler no Sesc, o que me levou a encontrar com mais freqüência as pessoas amigas.
Aboli a carne do cardápio. Este alimento impuro e tóxico é com vantagem substituído pela soja. Em seguida, o açúcar. Doces, só em festas. Frutas naturais e chá amargo tem a dupla vantagem de preservar os dentes e manter a cintura fina.
O próximo corte foi a gasolina. Acordar uma hora mais cedo para caminhar até o trabalho é um hábito saudável. À tarde, faço uma caminhada maior, enriquecendo minha vida com a poesia do por do sol nos jardins da praia.
Em um momento de jurássica lucidez, dispensei o computador.
Em outubro troquei todas as lâmpadas da casa por um modelo mais econômico. Em janeiro desliguei o freezer – cozinhar legumes ao vapor diariamente ao invés de descongelar tortas e frangos traz a economia adicional de dispensar o micro-ondas.
Agora a insaciável FHC quer ainda mais economia. Desafiante!
Depois de horas de reflexão concluí que só me resta dispensar a TV. Afinal, é a TV ou o banho quente! Uma hora a menos de TV por dia significa trinta horas ao final de um mês.
O duro é que só assisto ao telejornal e se desligar a TV fico sem comunicação com o mundo - quando encostei o carro, o tempo de leitura no Sesc virou caminhada – e não poderei saber quando terminará este benéfico racionamento. Experimentei por uma semana – que benção! Sento-me no escuro em posição de lótus, fico zen e “vou-me embora pra Pasárgada, onde tenho o Homem que quero no país que escolherei.”



Hoje acordei saudosista.
Ando pela areia da praia, mas é o lago de Bebedouro que me vem à mente. Ante o pôr-do-sol, recordo as tardes de Bebedouro, com centenas de andorinhas no céu claro e o quadro magnífico das copas avermelhadas refletidas nas águas límpidas do lago. Se caminho pelas ruas, são também as ladeiras de Bebedouro que invadem meu cotidiano.
E as manhãs de domingo em Bebedouro, com a feira típica e as pamonhas feitas na hora; o jornal lido na varanda, o cachorro ao lado, o jardim florido em frente e a promessa de um dia inteiro sem nada para fazer!
Sinto-me estrangeira em minha própria terra, quando, à noite, o sono procura o canto ausente dos grilos.
Por que não sou como as árvores, que criam raízes? Sou antes como os pássaros, buscando a amplidão.


Há algumas semanas atrás, chegou um médico do Rio e foi procurando pedindo a chave de seu armário; como ninguém entendesse, ele explicou: onde posso guardar meus livros, meu avental.... e também estranhou não haver um telefone em cada consultório.
Pois hoje chegou uma louca de Recife, espantando-se por não haver ar condicionado no consultório e nem ventilador. E ante o olhar atônito do chefe e dos colegas a seu redor, saca do celular e disca: Alô! Fernando? É Malu! Pois imagine, estou trabalhando em um posto sem ar condicionado! Um total absurdo! Estou telefonando para reclamar e pedir que sejam tomadas as devidas providências.... E completou:
- Taí, chefe, já reclamei ao presidente, é melhor o senhor tratar de providenciar tudo.
O chefe, na maior cara de inocente, provoca:
- Que presidente?
- O da República, lógico.
Pode?


Sonho: ‘estou em um carro, no banco de trás: um negro sujo está encolhido no chão, vestido de preto, agachado, e resmunga palavras em alemão. Entendo ele dizer: Gesundheit. Encolho meus pés para não encostar nele.’
A situação da saúde está ruim, as perspectivas profissionais são péssimas!


Outro sonho: ‘flores, muitas flores, flores que desabrocham pela casa e estou ao lado de minha mãe e de meus filhos’.
Acho que existe a esperança de uma vida familiar melhor em 98.


A louca que chegou do Recife foi afastada para tratamento psiquiátrico. Quase à força. Primeiro o chefe proibiu o balcão de marcar consultas para ela; depois tentaram deixá-la na chefia médica assinando autorizações de consultas extras, mas a mulher é doida demais. Colocou uma placa de quase meio metro sobre o balcão com o nome dela escrito em dourado, um enorme vaso de rosas brancas sobre a mesa e um prato de salgadinhos; ao sair, o colega falou que ela esquecera os salgadinhos e a outra me sai com esta: esqueci, não, mas não mexa e não deixa ninguém mexer, que são para o santo. Para o Santo?
No outro dia, a mulher me chega descalça, com um biquíni molhado sob a saia, dizendo que saíra correndo da aula de natação, pois quase se esquecera que estava na hora de vir trabalhar. Aí, foi demais, mesmo.
Cada uma!...
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