sábado, abril 09, 2005

NOVIDADES






Haicai de mestre


um p�ssaro
companheiro de caminho
pelo campo seco


Senna



Dicas de SUCESSO

Aprenda com os mestres:

Sempre fa�o o que n�o consigo fazer para aprender o que n�o sei�
Pablo Picasso


Dias de Outono

Parte 3

@ da autora
Mem�rias de uma vida interior, onde as datas n�o importam.
Para situar o leitor: Corre o ano de 1994, ainda...




Procuro novos sapatos em um restaurante, encontro sand�lias brancas e experimento, coloco um p� e percebo que o est�o servindo a comida, ent�o pe�o ao gar�on que guarde as sand�lias para mim at� eu retornar da mesa. Na mesa, meu pai est� sentado ao lado de outra mo�a e me ignora. Ali�s, meu pai � barbudo e eu n�o o conhe�o. Confusa, saio e vou para casa, mas estou sem chaves, chamo um chaveiro para trocar o miolo da fechadura, nisto chega minha filha e abre a porta com sua chave. Fico muito confusa, pois o miolo foi trocado e a chave velha serviu na fechadura nova.
Troca de chaves, troca de sapatos. Um sonho sobre h�bitos velhos e novos.



BOM DIA

Comece bem o seu dia
Usando sua fantasia
Para buscar alegria
Energia
Simpatia.

Imagine, a cada manh�,
Que est� abrindo um port�o.
O que haver� do outro lado?
Ora, um lago!
N�o sei se h� patos,
Peixes,
Flores ou lenha em feixes.
Olhe ao redor e descubra
Se h� c�u claro ou espessa bruma.
Retire toda a roupa
Enrole-a em uma trouxa
E por sobre o ombro esquerdo
Atire seus trapinhos.
Entre no lago,
Mergulhe,
Pule,
De uma s� vez ou aos pouquinhos,
De seu jeito,
De seu modo,
Fique inteira sob a �gua,
Fique o tempo que quiser,
Feche os olhos ou abra os olhos,
Perceba tudo o que puder,
Movimentos, toques, sons,
E atravesse o lago,
Saia da �gua,
Saia do lago,
Na outra margem h� uma muda
De roupa nova e enxuta.
Vista esta roupa e repare
Em seu modelo, suas cores,
Sua textura e espessura
E veja como lhe assenta.
Saia agora do jardim
Pelo port�o por onde entrou.
Abra os olhos, v� para a vida,
Se � pesada a sua lida
Ou se � leve a sua sina,
Eu n�o sei, mas lhe garanto,
A cada manha voc� pode
Refrescar-se em seu pr�prio lago
E vestir um traje adequado,
Folgado,
Requintado,
Amalucado,
Melhorado,
Engra�ado,
-em qualquer caso �
Encantado.

Bom dia n�o s�o versos de p� quebrado, e sim uma t�cnica de medita��o de um tal de Dr. Epstein, especialista em cura por imagens, cujo livro eu estou estudando.


Perco sangue �s baciadas, tenho muitas c�licas e, de repente, na cuba hospitalar, vejo o �ltimo peda�o expelido: um grande bicho verde e amarelo, parecido com um marisco, seco e morto. Ser� um sonho de cura? Finalmente meu �tero parou de chorar ou expeliu o monstro devorador de homens? Uau, que freudiano!
Verde/amarelo � Brasil � morto - ou ser� que estou chorando porque nasci brasileira?


Uma mulher sabe que envelheceu quando est� em uma reuni�o e algu�m lhe comunica que h� um homem � sua procura e o grupo em volta diz com unanimidade que com certeza trata-se de seu filho.



Voc� sabe o que � a t�o falada e atual s�ndrome da p�nico?
� o que sente o n�ufrago vendo passar ao largo o navio enquanto em suas carnes se encravam os dentes do tubar�o.
� assim com ser torturado pela Tribunal da Inquisi��o.
� quando procuras por teu anjo da guarda e te deparas com os guardi�es do Umbral.
� o que faz um n�o crist�o entrar em uma igreja e apelar para Santa Rita dos Imposs�veis.
Tu te sentes como um cristal estra�alhado e ouves � tua volta: ��s forte; ag�entas�.
Tu �s um sobrevivente e sofres como um �ndio aprisionado, um guerreiro ferido, um cavalheiro desonrado.
Deixa de lado todo aquele jarg�o psiqui�trico que n�o consola a tua dor profunda.
Vivemos em uma sociedade b�rbara, em que atingem o poder e o sucesso aqueles que usam sem escr�pulos da maior viol�ncia.
Sossega, nada h� de errado contigo.
Se n�o �s um alienado, como n�o entrar em p�nico?


Minha lista de compras: dois camelos. N�o sou �rabe nem moro no Egito. Simplesmente estou completando o pres�pio.

1995


Meu pai era conhecido como 'o homem da maquininha' porque fazia contas em um soroban. Aprendera com amigos japoneses a usar este instrumento de c�lculo e, em todas as elei��es, convocavam-no para mes�rio. E por v�rios dias ele ficava trancafiado com outros escolhidos a apurar os resultados voto a voto, urna a urna. Homem simples, aqueles eram seus dias de gl�ria _ ele saboreava o prest�gio e a admira��o dos companheiros por quem conseguira arrancar um segredo aos japoneses.
Em casa, ele tentava pacientemente ensinar-me o processo. Enquanto ele ditava as parcelas, eu rapidamente fazia os c�lculos _ de cabe�a. Meus dedos canhestros invariavelmente esbarravam em outras fileiras, desarranjando as dezenas antes de somadas as unidades e era preciso recome�ar. Papai propunha-se a zerar o instrumento, ao passo que eu, para economizar tempo, nele 'escrevia' o resultado da soma, j� feita mentalmente. O curioso � que papai lamentava minha total incapacidade para as matem�ticas e perguntava-se o que seria de mim, quando tivesse de somar longas listas de algarismos, como, por exemplo, verificando as despesas das compras mensais.
Se meu pai pudesse prever o futuro, teria poupado preocupa��es. A cada m�s � mais f�cil contabilizar as compras da casa. Os abarrotados carrinhos de supermercado, em tempos de real, transformaram-se paulatinamente em minguadas, leves sacolinhas.
E eu retiro apenas um d�gito por dia para calcular o tempo que falta para o t�rmino do mandato de FHC.


Temos em fevereiro uma tradi��o de fam�lia. Fevereiro � o m�s das uvas pretas. Pequenas e doces, d�o um licor delicioso e servem para fazer um tipo de bolo cuca simplesmente di-vi-no.
Lembrando-me da emo��o que eu sentia em menina ao acompanhar a matura��o da bebida, expliquei para minha filhinha o que pretendia fazer.
- Posso ajudar?
Equilibrando-se sobre um banco para poder alcan�ar a pia, com um avental quase t�o grande quanto ela, a pequenina lavou cuidadosamente os cachos, destacou as frutas e despejou-as uma a uma pelo estreito gargalo. A seguir, com minha ajuda e a de um funil, despejou a��car at� cobrir completamente as uvinhas.
- E agora?
- Agora � tampar, colocar aqui no escurinho e esperar quinze dias.
Todos os dias ela abria v�rias vezes a porta do arm�rio e espiava, e quando finalmente ficou pronto, coamos cuidadosamente o caldo espesse e perfumado para a licoreira da cristal.
A ocasi�o merecia convidados especiais. Os av�s foram convidados para experimentar o licor, que ela serviu em bandeja de prata, o peito estufado de orgulho, sorrindo feliz:
- Eu fiz sozinha!
A cada Carnaval, rotineiramente, refa�o meu estoque de licor de uvas pretas, mas nenhum ser� t�o saboroso quanto o daquele ver�o.



Temos a possibilidade de criar todas as trapalhadas poss�veis por n�o saber usar o tremendo potencial de nosso c�rebro, este cachorrinho obediente que faz exatamente o que a gente pede, sem julgar. Como o caso daquela mo�a que acendeu um cigarro dizendo: �este � o �ltimo cigarro que fumo�, e caiu infartada, pois esquecera-se de avisar que pretendia abandonar o v�cio.
J� vejo quem me olhe desconfiado, achando que alucino.
Minha m�e entrou em um api�rio afirmando que viera ali expressamente para ser picada por uma abelha. J� adivinhou? Uma abelhinha voou direto para ela e picou-lhe a ponta do nariz. Ningu�m mais foi picado.
Felizmente a maioria de n�s aprende a desejar melhor: a m�e que n�o tem tempo de adoecer, a estudante que de alguma forma estuda exatamente as quest�es do exame, o motorista confiante que sempre encontra uma vaga justo em frente ao port�o, em um estacionamento lotado.
Por isso falo de meus defeitos no passado e de minhas realiza��es no presente. E n�o ligo se me chamam de esquisita.
Esquisito, no espanhol, � algo bom, especial e �nico. O c�rebro humano � mesmo muito, muito esquisito. Como cada um de n�s.


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