Apaixonei-me por Hermann Hesse aos quinze anos de idade, ao abrir por acaso um de seus livros e deparar com as palavras:
Teatro mágico – só para loucos.
Comprei o livro, que devorei ansiosa, para descobrir que o tal teatro mágico, dentro do qual o personagem senta-se diante de um tabuleiro de xadrez para elaborar sua própria vida. O título era O Lobo da Estepe, e, na época, eu também era uma loba solitária, a uivar incompreendida pela vida. (por que será que, na adolescência, temos esta incrível necessidade de sermos rebeldes incompreendidos?)
Hermann Hesse influenciou profundamente meu pensamento adolescente. Copiei e colei na porta de meu quarto o poema chinês que ele colocou à entrada de sua casa, clamando por solidão e por paz, pois, em minha adolescência, eu tinha oitenta anos. (hoje tenho quinze, quem desse que a idade da alma á cronológica?)
Em meio ao sofrimento do pós-guerra, este alemão revela a esperança do gesto solidário, esperança que brota de nossa própria atitude interior de tolerância e aceitação do outro, da vida.
Homem que muito sofreu, adquiriu sabedoria, pois o sofrimento é alquímico: a dor é a pedra filosofal que transmuta o barro da ignorância no ouro da espiritualidade.
Hesse foi um buscador e vários de seus livros são de cunho autobiográfico, mas daquela biografia interior, narrando as peripécias da alma em sua busca por um sentido.
‘Esta foi a história de minha mocidade. Quando a relembro, parece-me que foi breve, curta como uma noite de verão. Um pouco de música, um pouco de amor, um pouco de vaidade – mas foi bela, generosa e colorida como uma festa do Elêusis. E apagou-se, rápida e miseravelmente como uma vela ao vento.’
É Peter Carmezind que mais me toca, a história do homem simples, obscuro, que não sabe expressar-se por palavras e contudo é cruelmente dilacerado pelo instinto da beleza, pelas emoções que ele não consegue ( e deseja desesperadamente) transmitir:
‘Que significado tivera minha vida e por que tantas alegrias e tantas dores haviam pesado sobre mim? Por que tivera eu a sede do verdadeiro e do belo, quando continuava ainda sequioso?... E por que motivo Deus, cujos desígnios não compreendemos, colocara dentro de meu coração aquela ânsia abrasadora de amor, já que ele me destinara a uma vida de homem solitário e pouco amado?’
Uma leitura complexa, enriquecedora.
Experimente.
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Há 11 anos