domingo, janeiro 02, 2011

Um garota de juízo

A religião não permitia, dizia ela, pois, antes de casar, era ‘pecado’.
Ele esperava.
Alem disso, dizia ela, devia obedecer aos pais.
Ele esperava.
No começo do namoro ela dizia que não podia por ser de menor idade.
Ele esperava.
Depois dos dezoito ela mudou o discurso: não tinha independência econômica.
Ele, apaixonado, esperava.
Ela divagava: não estava pronta, não era a hora certa...
Ele esperava.
Há que se ter controle sobre as emoções, explicava ela, e não comportar-se como uma maluca.
Ele esperava.
Ela bem que o julgava digno de seu amor, um homem íntegro, atencioso, trabalhador, gentil.
Um dia, surgiu o Outro: mundano, boa prosa, risonho, casado, promíscuo, fascinante, olhos azuis e irresistível sorriso sedutor.
Ela sentiu o desejo que irrompeu como um furacão, doido, urgente, e correu alucinada pela noite, indefesa, rendida, usando os últimos resquícios de sanidade que lhe restavam para atirar-se, em um frenesi, nos braços dEle, que, sem entender nada, ficou, no entanto, imensamente feliz.

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